Conversas Abertas - 28.02.2025

© AUC | Arquivo da Universidade de Coimbra

A conferência será focada na Casa da Cerca, integrada na antiga cerca do Colégio de Santo Agostinho que constituí um exemplar notável de uma cerca de um colégio conventual, para evidenciar a necessidade de desenvolver uma nova campanha arqueológica que permita determinar o local exato da Porta Nova, bem como o cabal conhecimento da cerca colegial.


Supunha-se que a Porta Nova se localizava ao fundo da rua da Couraça dos Apóstolos, ou nas imediações. Há alguns anos, apareceu uma porta num edifício sito na rua do Corpo de Deus, logo identificada por alguns historiadores como podendo ser a referida porta. No entanto, o estudo da documentação indicou outro caminho, apontando para uma localização a meio da rua da Couraça dos Apóstolos, muito próxima da Casa da Cerca. A Casa da Cerca integra a antiga cerca do Colégio de Santo Agostinho e esta constitui um exemplar notável de uma cerca de um colégio conventual, com poucas diferenças em relação à forma original. A edificação da cerca agostinha, contígua à muralha da cidade, num terreno com uma enorme inclinação e porque a fortificação já tinha perdido a importância militar, exigiu certamente uma grande intervenção de engenharia implicando fortes movimentos de terras e obras hidraúlicas de alguma envergadura. Os frades crúzios aproveitaram a obra para o estabelecimento de uma passagem parcialmente subterrânea no caminho de ligação entre o seu Mosteiro de Santa Cruz e o Colégio, uma vez que era necessário atravessar o caminho público da Porta Nova para S. Martinho da Eira de Patas (como se designava a ermida onde foi edificado o Colégio de Tomar). Numa campanha arqueológica recente poderá ter aparecido parte desta ligação mas os resultados não foram conclusivos, sendo necessária a prossecução dos trabalhos até completo esclarecimento. Uma nova campanha arqueológica será, assim, fundamental para a determinação do local da Porta Nova, bem como para o cabal conhecimento de uma cerca colegial estabelecida, por necessidade, em condições muito adversas para o efeito. A Cerca do Colégio de Santo Agostinho deve ser objeto de um estudo aprofundado e de uma cuidada reabilitação que destaque todos os elementos postos a descobertos, passando a integrar os circuitos turísticos como um exemplo patrimonial de excelência.


Isabel Anjinho

Arquitecta, engenheira civil, com pós-graduação em “Recuperação e Valorização de Conjuntos e Edifícios Históricos”. Mestre em História da Arte, foi investigadora bolseira da FCT. Membro da SPAutores e da equipa editorial da Flainar. Desempenha actividade profissional em empresas próprias de arquitectura, engenharia e consultadoria na área do património: “Jorge Anjinho, AEGP” e “IdemIbidem”. Colaborou na organização de eventos culturais ligados à cidade de Coimbra, tais como, comissariado da “Exposição dos 70 anos do Diário de Coimbra” (2000), comissariado das comemorações dos “900 Anos de Almedina”- União de Freguesias de Coimbra (2019), colaboração na exposição “Coimbra e a Água dos primórdios até meados do séc. XIX” - Museu da Água de Coimbra (2019). Autora do livro “Fortificação de Coimbra, das origens à modernidade” (2016), co-autora com o arq. Rúben Vilas Boas do “Modelo 3D de Coimbra Medieval” (2019).


António Rodrigues Costa

Aos 16 anos iniciei funções na Biblioteca Municipal de Coimbra, secretariando o historiador conimbricense Dr. José Pinto Loureiro e trabalhando sob a direção de José Branquinho de Carvalho, outro historiador coimbrão. Em 1977, mudei de rumo ao assumir a chefia dos Serviços Municipais de Turismo, posteriormente designados por Departamento de Cultura e Turismo. Em 1989, deixei o Município Mondeguino, para trabalhar em Lisboa, numa cadeia de hotéis e, passado algum tempo, convidaram-me para dar aulas no Ensino Superior Privado. A partir daí para além da docência passei a exercer funções de consultor na área da gestão turística, nomeadamente, para as Nações Unidas, com diversas missões realizadas nos PALOP. Terminei a minha carreira profissional como Professor Adjunto na Licenciatura em Gestão Hoteleira, da Universidade Lusófona. Analisando este caminho encontrei resposta para a minha questão inicial e resolvi retornar ao início, dedicando-me à investigação histórica. O recomeço desenvolveu-se em dois sentidos e desembocou nos livros que, entretanto, dei à estampa e na criação do blogue A’Cerca de Coimbra, surgido, pela primeira vez a 5 de novembro de 2015, e que vai, brevemente, atingir as 1.100 entradas. O objetivo principal deste blogue centra-se na recolha de referências à cidade do Mondego, existentes em obras publicadas, e na sua divulgação, utilizando os recursos disponibilizados pelas novas tecnologias. Não me compete emitir juízos de valor sobre a sua relevância e utilidade, mas recompensa, de alguma forma, o trabalho realizado, tanto a referência de significativo número de estudantes que afirmam terem tido o blogue como fonte de informação para os trabalhos académicos realizados, como os comentários publicados pelos leitores. Como forma de intervenção de cidadania ativa e na sequência lógica do trabalho levado a cabo no blogue A’Cerca de Coimbra surgiram as Conversas Abertas. A primeira realizou-se no dia 10 de maio de 2019 e o modelo utilizado – que tem servido para todo o ciclo –, assentou em dois pilares: decorreriam na última sextafeira dos primeiros meses do ano e, após a apresentação do tema feita pelo palestrante, seguir-se-ia um debate aberto à assistência.