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500 Anos da Biblioteca da Universidade

História e Memória

Do livro “encadeado” até ao empréstimo domiciliário

Como era uma biblioteca, há 500 anos?

A mais antiga referência documental à biblioteca é uma Ata de 1513 sobre a necessidade de consertar uns canos que deixavam entrar água, o que quer dizer que não só existia, como já era velha nessa data. Por isto é que dizemos que a Biblioteca comemora agora os 500 anos, pelo menos.

Como se chamava?

A biblioteca da Universidade chamava-se então “livraria do Estudo”.

Quantos livros tinha?

Antes de 1503, teria “setenta livros de toda ciência que estavam na dita livraria nas Escolas velhas”. No final desse século, teria 739 volumes.

Como se enriquecia?

Por compras mas também por doações. A primeira que se conhece, cerca de 1508, foi de “cinquenta e oito volumes de livros de Teologia, Cânones e Leis e Artes que deixou o Licenciado Diogo Lopes por sua morte ao dito Estudo, todos encadernados” (termo de entrega dos livros de 17 de fevereiro de 1517).

Como estava organizada?

Estaria num espaço térreo do complexo edificado por D. Manuel “em forma e disposição de Escolas Gerais” (originalmente o paço do Infante D. Henrique, doado por Dom Manuel, a que a universidade e o rei acrescentaram, por compra, vários edifícios contíguos). Mas, em 5 de março de 1535, a Universidade solicita ao rei que se “possa levantar a casa da livraria e sobradar, porquanto estando térrea da maneira que está, se danifica a livraria com a humidade”. Ocupava, então, uma sala com 24 estantes (ou meras prateleiras, que levam só seis ou sete volumes cada uma), 12 a cada lado de um corredor central, certamente perpendiculares ao comprimento da biblioteca e intercaladas por janelas, como era canónico na época.

Quem era o responsável?

Não se conhecem regulamentos antigos e os Estatutos da universidade de 1544 (perdidos) contemplariam a existência de um “guarda da livraria”, com obrigações de vigilância e de limpeza dos livros e um horário de abertura de dois períodos diários (de duas horas cada), como diz Castanheda no seu requerimento de aumento de ordenado: “… abrir a porta dela, cada dia duas vezes, e de cada uma delas há de estar aberta duas horas (…) é necessário estar ele presente de cada vez ou ter um homem que olhe por isso, e assim há de ter os livros limpos, para que não envelheçam, e desempoados, para que se não comam do bicho”. O mais antigo responsável formal, com o título de “guarda do cartório e livraria” (isto é, do arquivo e da biblioteca), de que conhecemos nomeação, a 5 de novembro de 1545, foi Fernão Lopes de Castanheda, acabado de chegar da Índia.

Como funcionava?

Em Coimbra, a biblioteca continuaria a ser pensada pelos Estatutos de 1544 com livros encadeados, com correntes, varões e fechaduras e organizada segundo a ordem das Faculdades. Na falta do texto exato dos Estatutos, e para saber mais do seu funcionamento, podemos socorrer-nos do capítulo “De custodia bibliotece & librorum…” inserto nos Estatutos do Colégio conimbricense de São Pedro (cerca de 1551).

Normas claras para o funcionamento da biblioteca da universidade, iremos encontrá-las com algum desenvolvimento nos Estatutos de 1559:

Haverá nas Escolas uma casa para livraria da Universidade, na qual estarão os livros de todas as Faculdades postos em estantes, e presos por cadeias, e repartidos e ordenados na melhor maneira e ordem que poder ser (…) e porá escrito à porta da dita livraria, assinado pelo dito Reitor, (...) que entrarem na dita casa sob pena praestiti juramenti, que não tirem nenhum deles livro algum, nem ponham neles cotas, e quando se forem, os serrem e fechem por todas as brochas que os livros tiverem; e assim que não falem uns com outros de maneira que estorvem os que estiverem estudando…“ (Estatutos de 1559, Cap. 59: Da livraria da Universidade)

Que progressos houve durante o século XVI?

Os fundos cresceram e o horário de abertura passou de 4 horas por dia (em 1548) para 5-6 horas (em 1559) e para 6 horas, tanto de verão como de inverno, pelos Estatutos de 1591 e pelos que se lhe seguem, de 1597 e de 1612-1653!

Neste caso dos horários, as determinações estatutárias parecem mais ir-se adaptando às necessidades ou plasmando as alterações ocorridas, do que copiando-se umas às outras, como aconteceria se a Livraria fosse uma mera formalidade, sem funcionamento real.

Nos Estatutos de 1591, o capítulo Da Livraria foi profundamente revisto e muito acrescentado. Diz-se, por exemplo, que:

“... a pessoa que tiver cargo da dita casa, e chave dela, será bom latino, e saberá grego e hebraico, sendo possível, e terá conhecimentos dos livros para os saber ordenar...”

“... haverá uma cátedra [cadeira] bem alta na dita livraria, da qual se possa bem ver tudo o que se fizer em toda a casa...”

“Terá [o guarda] cuidado de limpar os ditos livros, sacudi-los do pó e mandar varrer a casa ao menos duas vezes na semana”

A obrigação do Reitor

Os mesmos Estatutos não deixam de proclamar, com solenidade:

E porque uma das coisas mais importantes à Universidade é ter boa livraria, para ela se poder conservar e aumentar, o Reitor em cada triénio será obrigado a comprar para a dita livraria cem cruzados de livros dos que nela não houver, e os melhores e mais proveitosos que no tal tempo se acharem, à custa da Universidade. E não o fazendo assim, perderá de sua fazenda cinquenta cruzados para a dita livraria.”