Editorial | A janela da Casa das Ardenas: Lugar e desígnio para a interdisciplinaridade

Da janela da Casa das Ardenas perscrutamos o palimpsesto corboziano do espaço construído em tempo longo da cidade de Coimbra (Corboz, 1983). Do criptopórtico romano até à contemporaneidade intersetada pelo olhar patrimonial da Unesco, pelos edifícios estadonovistas da Universidade e pelo espaço público da polis, transcorremos em voo de pássaro o espaço construído envolvente. É esta também a janela ampla, a partir da qual o nosso olhar problematizador busca na realidade sociocultural, no legado histórico, na expressão artística, no ambiente natural e nas geografias mais ou menos espraiadas, o ponto de fuga para o qual converge cada observador.

A partir de olhares disciplinarmente múltiplos sobre o humano, o social e o artefacto, mediados pelo tempo e pelo ambiente, a metáfora da janela do edifício sede do CEIS20 procura assim ser reveladora do espaço da interdisciplinaridade como território convergente da nossa investigação. Os avanços científicos individuais trazidos em perspetiva cónica a partir dos vários paradigmas científicos (Kuhn, 1962), ganham espessura em constelações nos Grupos de Investigação e em traços longitudinais vincados a grafite, quando plasmados nas cinco Linhas Temáticas que convocam abordagens epistemologicamente plurais para responder de forma triangulada e robusta aos desafios globais contemporâneos espoletados pela realidade complexa.

Em 1990, Edgar Morin perguntava justamente “[...] à quoi serviraient tous les savoirs parcellaires sinon à être confrontés pour former une configuration répondant à nos attentes, à nos besoins et à nos interrogations cognitives?”. Afirmando que os territórios externos às disciplinas, bem como perspetivas metadisciplinares, seriam necessários para consolidar o corpo das próprias disciplinas, Morin referenciava Pascal, no pré-iluminismo de Seiscentos, preconizando já as limitações causadas por uma perspetiva fragmentada do conhecimento na relação entre a parte e o todo.

O CEIS20 corporiza assim o locus mental e físico do laboratório para a interdisciplinaridade, catalisador da produção, da interseção, da formação e da disseminação do conhecimento científico, que se prolonga pelo Doutoramento em Estudos Contemporâneos, que se adensa nas suas redes nacionais e internacionais, e que se constrói para e com a comunidade sob a forma de ciência cidadã.

Ao celebrarmos hoje o início de um novo ano letivo, damos as boas-vindas aos/às novos/as doutorandos/as e investigadores/as que acolhemos, sedimentamos as articulações horizontais e verticais que alicerçam a nossa produção científica, e lançamos as bases para desafios científicos vindouros respaldados pelo Projeto Estratégico do CEIS20.

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Carolina Coelho
Member of the Scientific Coordination of CEIS20
Architect and professor at the Faculty of Psychology and Educational Sciences, University of Coimbra

References:

Corboz, A. (1983). El Territorio como palimpsesto. Diógenes, Vol. 31, No. 121, marzo 1983.

Kuhn, T. (1962). The structure of scientific revolutions. University of Chicago Press.

Morin, E. (1990). Sur l’interdisciplinarité. Carrefour des Sciences, Actes du Colloque du Comité National de la Recherche Scientifique Interdisciplinarité. Éditions du CNRS.