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Publicação do Volume 5 da Revista de Estudos Literários

Publication date: 21-09-2016 15:21


Revista Estudos Literários 5





Acaba de ser publicado o quinto número da Revista de Estudos Literários, dedicado ao tema "Literaturas Africanas de Língua Portuguesa". Este volume foi organizado por José Luís Pires Laranjeira.

«A área das literaturas africanas de língua portuguesa, nos cinco países africanos, em Portugal, no Brasil, ou onde quer que seja, tem 40 anos, pelo menos, embora as disciplinas que a constituem, enquanto formas, instrumentos e lugares de ação, pressupondo saberes científicos e, de certo modo, uma sabedoria pesquisada, vivenciada, aprendida, transmitida e testada, como disciplina académica, esteja ainda a passar por provações, digamos, da puberdade. A área padece ainda de falta de recursos materiais e humanos, no que à consolidação académica diz respeito, sem desrespeito pelo que já se encontra constituído, porque muito há que fazer. Em primeiro lugar, faltam cinco histórias das literaturas, uma de cada país. Segundo, o ensino e a investigação de todas as cinco literaturas nos cinco países africanos. Terceiro, suficientes especialistas (quer dizer: profissionais a tempo integral) em todos os espaços onde existem essas literaturas em produção e/ou circulação/tradução. Quarto, a capacidade de crítica valorativa e distanciamento de interesses corporativos, económicos e grupais. Quinto, a passagem inelutável do tempo.

Em Portugal, as cinco literaturas africanas de língua portuguesa, ao fim de 40 anos de independências políticas, decaem nas universidades, por força das fraquezas político-económicas e institucionais. O panorama é desolador e não há estatísticas que possam provar o contrário, porque a crise, também na universidade, é realmente vivida por todos. Faz-se o que se pode. Este número da nossa revista inclui contributos diversificados, mostrando algo do que se pensa e escreve nesta área.

Os textos poderão ser apreciados. Queremos sobretudo chamar a atenção dos leitores para a derradeira entrevista de Manuel Ferreira (que estava inédita, dada ao escritor angolano Lopito Feijoó e, por ele, a nós), no mês em que faleceu (em 1992, há quase um quarto de século!), e que é um documento de homenagem àquele que foi – paradoxalmente gigante solitário e solidário – cabouqueiro, divulgador, editor, professor, cavaleiro andante das sete partidas, apaixonado das cinco literaturas, referência mundial, incontornável, para quem se aproxima, pela primeira vez, deste campo.

O ensaio de Rui Guilherme Silva faz justiça à prática teórica de Manuel Ferreira, debatendo o percurso teórico da literatura cabo-verdiana à luz desse Mestre, desvelando também as suas impropriedades, consoante a própria evolução teórica que outros contributos ajudaram a fomentar.

Do mesmo modo, alargando a referência ao conteúdo deste número da revista, convém salientar o ensaio de Luís Kandjimbo sobre a constituição da Literatura Angolana como disciplina científica e académica, o de Francisco Topa sobre Alfredo Troni, carreando novos dados para a sua biografia intelectual e de vida, e , somente para referir mais uns exemplos, o texto de Inocência Mata a propósito da lusofonia e de Mário César Lugarinho, sobre a crise das masculinidades em contos de João Melo, o qual concedeu uma entrevista a Maria do Rosário Cunha. Saliente-se ainda a colaboração de nomes prestigiados dos estudos literário em questão, como Ana Mafalda Leite, Laura Padilha, Carmen Lucia Tindó Secco, Fátima Mendonça e Jorge Valentim, ao lado de novos valores que se alevantam, como Solange Luís ou Majda Bojic. Registe-se também a colaboração de Elena Brugione e Rosilda Alves Bezerra, além da espanhola Ana Belén García Benito.

Num tempo em que as literaturas africanas, em Portugal, são ainda desconsideradas como alvo de tratamento científico (ao contrário do Brasil), por condicionalismos que não podem agora ser tratados, este número foca a sua atenção em alguns dos autores africanos (Mia Couto, Paulina Chiziane, João Paulo Borges Coelho, Alfredo Troni, Eduardo White, Domingas Samy, etc.), com diversos modos de serem lidos pela comunidade interpretativa, abrindo este espaço à colaboração de europeus, africanos e brasileiros, no que resulta uma visão alargada sobre essas cinco literaturas de língua portuguesa. Outros artigos, de carácter mais genérico e teorizante, procuram reavaliar alguns posicionamentos teóricos e o próprio percurso de formação dessas novas disciplinas. Os cinco objectos de estudo devem-se designar da melhor froma possível, para que as suas singularidades não sejam engolidas no compacto do conjunto: literatura angolana, literatura moçambicana, literatura cabo-verdiana, literatura são-tomense e literatura guineense. Ultrapassada a fase dos PALOP, a cada um segundo as suas necessidades!»

Pires Laranjeira