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[fsn1] Enquadramento, Google Earth, fevereiro, 2024 |

Fontanário da Sé Velha ou Fontanário da Catedral de Santa Maria de Coimbra

Para se avaliar da centralidade deste Largo, vale a pena referir que a Casa da Câmara (Domus Municipalis) estava apenas a 1,7m da Sé, tendo ali permanecido, enquanto Paços do Concelho, pelo menos até 1335.
Este largo sofreu inúmeras transformações ao longo de séculos. A primeira, de que existe registo, ocorreu entre 1483-1543, quando o Bispo-Conde D. Jorge de Almeida mandou retirar o pelourinho (hoje com réplica na praça do Comércio), para ampliar e regularizar, através da demolição de casas contiguas à Sé, o adro a norte e oeste da igreja. A rampa de acesso à Catedral foi então transformada num tabuleiro horizontal, com 6m por 24m, cercado por uma grade gótica de pedra calcária com entradas em cada extremo do patamar.
O fontanário da Sé Velha foi erguido entre os anos de 1573-74, no quadrante noroeste do adro, onde já existia um depósito provisório de água. Tratava-se de um chafariz de uma só bica que respondeu ao cumprimento da ordenação na carta régia emitida por D. Sebastião, em 7 de Maio de 1573, onde se determinava a construção dos chafarizes nos largos urbanos da Feira dos Estudantes e da Sé. Após a construção do Aqueduto de D. Sebastião, no ano de 1570, parte da água por ele conduzida era desviada para um reservatório construído nessa altura no Largo da Feira, contíguo ao Chafariz da Feira dos estudantes, e deste para um outro reservatório, de menor dimensão, junto do ângulo noroeste do adro da Sé.
Entre 1585-1615, o Bispo-Conde D. Afonso de Castelo-Branco ordenou a realização de novas alterações no adro, aumentando-o em 4,8m para ocidente, acompanhado por um novo muro ocidental e meridional, uma escadaria frontal e um chafariz junto ao canto noroeste, que recebia a água encaminhada da Fonte dos Bicos. O fontanário foi beneficiado em 1610. De maior dimensão relativamente ao anterior, passou a dispor de duas bicas para assim poder responder à afluência da população. As bicas passaram a ser ladeadas pelos brasões, que homenageavam os Bispos D. Jorge de Almeida e D. Afonso Castelo-Branco.
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[fsv2] Terraço no final do séc. XVI, com o chafariz, mas já sem a escadaria |
[fsv3] Terraço correspondente à linha a vermelho, com chafariz (m) |

Em 1775, o Dr. Francisco de Lemos Faria Pereira Coutinho, reitor da Universidade de Coimbra e Bispo da cidade, mandou demolir o acesso à Sé, de modo a facilitar o acesso à Imprensa da Universidade e, António Augusto Gonçalves mandou encurtar o terraço, cortando o triângulo noroeste, para onde transferiu a fonte. Do lado sul, encurtou-o e fechou o acesso com um muro e um portão, e, no acesso nordeste, também mandou colocar um portão.
Devido ao mau estado de conservação do fontanário e à falta de abastecimento que se fazia notar neste ponto da cidade, houve necessidade de ampliar o depósito que abastecia a fonte. As plantas de obras para o fontanário são aprovadas a 18 de abril de 1863, tendo acompanhado o recuo do terraço e a colocação em cunha.
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[fsv4] Terraço no final d séc. XIX/XX, com chafariz e escada lateral |
[fsv3] Terraço correspondente à linha a azul, com chafariz (n) |

Nessa intervenção o fontanário voltou a ter apenas uma bica e os brasões dos Bispos D. Jorge de Almeida e D. Afonso Castelo-Branco foram retirados e removidos para o Museu da Arqueologia da Universidade, sendo posteriormente colocados à guarda da coleção de escultura do Museu Nacional de Machado de Castro.
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[fsv4] Fontanário, com duas aguadeiras em primeiro plano |

Em 1933-34 o terraço foi demolido, expondo parte das sepulturas escavadas na rocha do cemitério medieval, algumas delas intercetadas pelos muros da Sé, o que veio demonstrar que, pelo menos o cemitério era anterior à construção do templo do séc. XII (ou da escadaria da Sé).
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[fsv6] Demolição do terraço |
[fsv7] Sepulturas escavas na rocha |

Em 1934, foi contruída a escada com um desnível de 3m que hoje permite o acesso à Sé. Ainda nesse mesmo ano, o Presidente da Junta de Freguesia de Almedina alerta a Câmara para o desmonte do adro e para a necessidade de preservar as funções do Chafariz da Sé.
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[fsv8] Construção da escada de acesso à Sé |
[fsv9] Sé-Velha após a construção da escada de acesso |

Em agosto de 1934, foi instalado no Largo da Sé um marco fontanário, também com as funções de candeeiro de iluminação pública, que havia sido encomendado à Fundição Alba, em Albergaria-a-Velha. Este fontanário funcionou até à década de 80 do séc. passado, altura em que a Câmara desviou a água para um pequeno lago em frente à Manutenção Militar.
Na noite do dia 20 de janeiro de 2006, um automóvel colidiu com o marco Fontanário da Sé e partiu-o. Na noite seguinte, a parte de cima do marco foi roubada.
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[fsv10] Marco Fontanário inicial |
[fsv11] Marco recolhido após acidente |
[fsv12] Marco Fontanário recolocado |

Após insistência da população, o marco Fontanário voltou ao Largo da Sé, antes do Natal de 2011.
Conscientes da importância do marco Fontanário na memória coletiva e intemporal do Largo da Sé Velha, em 2023 foi efetuada a sua manutenção, por forma a otimizar a sua utilização, através da sua integração num patamar lajeado, envolvido por uma nova grelha de drenagem.
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[fsv13] Fontanário, 2024 [sc] |
[fsv14] Fontanário, 2023 in CMC |
[fsv15] Fontanário in CMC |

Legenda:
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[fsv3] Alterações urbanísticas do Adro da Sé Velha (adapt. Vasconcelos, 1993:199), em [1]
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[fsv14] e [fv15] in https://www.coimbra.pt/2023/05/concluidas-obras-de-requalificacao-do-largo-da-se-velha/#&gid=1&pid

Fontes:
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António Garcia Ribeiro de Vasconcelos, A Sé Velha de Coimbra. Vol. I e II. Reedição AUC, 1993;
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Francisco Augusto Martins de Carvalho, Fontes e chafarizes de Coimbra e suas imediações. Arquivo Coimbrão, Coimbra, vol. VI, p. 154-203, 1942;
-
Isabel de Moura Anjinho, Fortificação de Coimbra: Das origens à modernidade, vol. I, Coimbra, 2016;
-
Jorge de Alarcão, Coimbra e a sua região no tempo de D. Sesnando, Portvgalia, Nova Série, vol. 42, Porto, DCTP-FLUP, 2021, pp. 159-173 DOI: https://doi-org/10.21747/09714290/port42a8;
-
Jorge de Alarcão, Coimbra – A montagem do Cenário Urbano, Coimbra, 2008;
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José Maria de Oliveira Lemos, Fontes e Chafarizes de Coimbra. Direção de Arte de Fernando Correia e Nuno Farinha. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra, 2004;
-
Mariana da Silva Monteiro, A evolução da Paisagem Urbana da Alta de Coimbra, Relatório da prática pedagógica de Mestrado em Ensino de História e Geografia no 3º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário, orientado pela Doutora Ana Isabel Ribeiro e pela Doutora Adélia Nunes, apresentado à FLUC, 2016;
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Raquel Santos e Carmen Pereira, Trabalhos Arqueológicos e Antropológicos realizados durante a abertura de rede de gás no âmbito da remodelação do imóvel sito no Largo da Sé Velha, 30/Beco da Carqueja, 3. União das Freguesias de Coimbra, CMC, Divisão de Reabilitação Urbana, 2015 [1]
-
Rodrigues Costa, in À Cerca de Coimbra: Coimbra: Abastecimento de água à Cidade, nos finais do século XVIII 2 - In https://acercadecoimbra.blogs.sapo.pt/coimbra-abastecimento-de-agua-a-cidade-196658;
-
Rodrigues Costa, in À Cerca de Coimbra: Coimbra: Catedral Histórica, um monumento a revisitar 1 - in https://acercadecoimbra.blogs.sapo.pt/coimbra-catedral-historica-um-monumento-133216.


Paulo Simões Lopes, fevereiro de 2024
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