Projeto Europeu CONVIVIUM: Património Alimentar, um Novo Ativo do Programa New European Bauhaus

O projeto CONVIVIUM — New European Bauhaus Solutions in Food, Living Heritage, and Conviviality representa o primeiro financiamento competitivo conseguido pela Universidade de Coimbra (UC) em concurso europeu especialmente aberto para promover o programa New European Bauhaus (lançado em 2021). Os investigadores dispõem de 36 meses (novembro de 2024 a outubro de 2027) para cumprir os dois maiores desígnios do projeto: conferir dimensão cultural ao Pacto Ecológico Europeu, através do aproveitamento do poder material, semiótico e simbólico dos alimentos; desenvolver ações de preservação do património alimentar, promotoras dos valores-âncora do programa New European Bauhaus: beleza, sustentabilidade e inclusão.

O consórcio interdisciplinar e intersectorial CONVIVIUM, composto por 20 parceiros públicos e privados de sete países europeus (Portugal, França, Noruega, Países Baixos, Polónia, Espanha e Bélgica), apresenta um perfil altamente complementar do ponto de vista das suas expertises. Cobre os domínios das humanidades e ciências sociais, da arquitetura e do design, das artes e das indústrias criativas, do turismo e das tecnologias digitais.

Reconhecendo que a crise ecológica é uma crise cultural, ou seja, uma crise do relacionamento das pessoas com a vida que as rodeia, o CONVIVIUM visa criar laços de reciprocidade, respeito e cuidado entre os indivíduos e o ambiente. Nesse sentido, propõe-se desenvolver um conjunto de soluções que valorizam a dimensão estética, sustentável e inclusiva dos alimentos como meios de promover novos modos de ligação ecológica com o planeta. Mais: revê o sentido do conceito «convivialidade», entendido como «convivência reforçada», uma vez que resulta de uma cultura de cooperação, reciprocidade, interdependência e regeneração, alargando o sentido convencional de «comunidade» além do humano. Ou seja, entende o património cultural como um «todo» formado por seres ou elementos inter-relacionados e heterogéneos. Por isso o lema do projeto inspira-se e amplifica o sentido original do termo latino CONVIVIUM, significando saber viver com todos os «outros» (animados e inanimados, humanos, não-humanos e mais-que-humanos).

O projeto desenvolve práticas investigativas de Ciência Cidadã, apostadas em posicionar os cidadãos como stakeholders («partes interessadas») do património alimentar, promovendo a ligação das pessoas aos seus ecossistemas locais.

São 11 as soluções a desenvolver pelo projeto, distribuídas pelas seguintes tipologias:

(i) Protótipos baseados na arquitetura e no design, destinados a apoiar os agricultores e as cooperativas agrícolas a trabalhar em simbiose com o ambiente, com a tradição e com os avanços tecnológicos mais recentes: Requalificação das Paisagens (Viti)Culturais; Horta Aberta; Cozinha Aberta;

(ii) Eventos e intervenções culturais que juntam a alimentação, as artes e as humanidades, para mudar positivamente as mentalidades de produtores e consumidores de bens alimentares: Revitalização da Agricultura Rotativa; A Mesa Convivial; Exposição Paisagens Alimentares Conviviais;

(iii) Modelos organizacionais que promovem, nas populações locais, visões interculturais, geracionais e interseccionais através da alimentação: Diálogos sobre Património Alimentar; Mesas de Sobras;

(iv) Ferramentas digitais para reforçar a presença do património alimentar em instituições, como museus, e locais históricos: Reconfiguração de Património Construído Unesco através do Património Alimentar; Património Alimentar Familiar: Onde o Futuro Começa; Percursos do Património Alimentar em Realidade Aumentada.

As soluções serão testadas em diferentes localidades: Coimbra (PT), Ilhas Lofoten (NO), País Basco (FR e ES), Flandres (BE e NL), Roterdão (NL) e Gdańsk (PL). Em Coimbra, refeitórios de edifícios hoje qualificados como Património Mundial pela Unesco, irão recuperar usos alimentares de séculos passados. Novas ferramentas digitais permitirão valorizar o circuito turístico atual. Está prevista a criação de percursos multimédia para os Colégios São Jerónimo, de Jesus e das Artes, a par do Mosteiro de Santa Cruz, que permitirão revelar aspetos da arquitetura desses espaços de refeição e das interações sociais que aí tiveram lugar. O bem Unesco «Universidade de Coimbra, Alta e Sofia» passará a distinguir-se dos seus congéneres pela inovação de proporcionar aos visitantes a experiência criativa de recuperarem o convívio original que nesses espaços houve entre o património alimentar e o património edificado.

A equipa da Universidade de Coimbra (UC) terá ainda a seu cargo desenvolver uma base de dados para que os cidadãos possam autonomamente salvaguardar online, partilhar e comunicar o seu próprio património alimentar familiar.

Em comunidades do município de Coimbra será testada a solução «Mesas de Sobras», criada pelos parceiros noruegueses, para combater o desperdício alimentar e o isolamento social, estimulando os participantes a criarem um Caderno de Receitas de Sobras com excedentes alimentares provenientes dos mercados e dos agregados familiares.

Coimbra participa igualmente na testagem de protótipos para (1) revitalizar o património e tradições do cultivo das vinhas, das adegas e da agricultura rotativa, (2) reimaginar as hortas comunitárias como lugares de cuidado e regeneração ecológica e (3) conceber as cozinhas comunitárias urbanas como espaços social e culturalmente diversos e inclusivos, capazes de responder à insegurança alimentar crescente.