A Poesia dos Jogos: Transcendência, Arte e Valor na Experiência Olímpica e Paralímpica
A esta questão a UC responde com a criação de condições para que o talento prospere, promovendo a cultura do esforço, tanto no desporto como na vida académica.
Filipa Godinho
Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Paris 2024, realizados há poucos meses, deixaram-nos memórias que transcendem a dimensão desportiva.
Este evento representa, na sua essência, uma forma superior de poesia. É o lugar onde o corpo humano atinge a sua máxima expressão estética, onde a técnica se converte em arte e o esforço se sublima na transcendência do espírito.
A Universidade de Coimbra (UC), com a sua rica tradição humanista e desportiva, fez-se representar de forma notável nestes Jogos. Cinco estudantes-atletas de alto rendimento, carregando em si a responsabilidade de um legado académico e desportivo, cruzaram fronteiras e participaram nesta ode universal. A Catarina Costa, em cada combate, a Camila Rebelo, o Diogo Cancela e o Tomás Cordeiro, em cada braçada, e o Telmo Pinão em cada metro percorrido, levaram o orgulho da sua instituição de ensino e do seu país ao palco mais universal e eclético do mundo.
Estes jovens protagonizaram o encontro entre o mérito académico e a excelência desportiva, afirmando, uma vez mais, o papel central das IES na formação integral do indivíduo.
O Valor do Estudante-Atleta
Um atleta olímpico ou paralímpico é, em si mesmo, um símbolo de transcendência. É alguém que desafia os limites do corpo e da mente, projetando-se além do espaço e do tempo. Contudo, quando esse atleta é, simultaneamente, um estudante, a transcendência adquire outra dimensão. Cada braçada, cada movimento, cada metro percorrido é acompanhado de um peso duplo: o das exigências do treino e o das responsabilidades académicas.
Na UC, acolhemos e formamos estes indivíduos singulares. Os cinco estudantes-atletas que representaram a nossa instituição nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos são testemunhos vivos de um ideal que vai além da competição. Demonstram que a conciliação entre a sala de aula e o desporto não é apenas possível, mas desejável, sendo uma expressão contemporânea da utopia humanista.
A Conciliação como Princípio Ético
A UC tem sido um laboratório de experiências de conciliação. Aqui, acreditamos que o rigor académico não deve suprimir o sonho desportivo, tal como o treino exaustivo não pode excluir o direito ao conhecimento. Esta postura reflete uma visão moderna e inclusiva da formação universitária: formar não apenas especialistas, mas, sempre e sobretudo, cidadãos completos, capazes de atuar num mundo em rápida transformação.
A carreira dual do estudante-atleta requer instituições que promovam flexibilidade, apoio e reconhecimento. Contudo, mais do que uma questão estrutural, é um desafio ético: como garantir que o esforço individual e coletivo encontra eco e valorização?
A esta questão a UC responde com a criação de condições para que o talento prospere, promovendo a cultura do esforço, tanto no desporto como na vida académica. Mais do que a criação de programas, como o Programa de Apoio ao Alto Rendimento da UC (PAAR-UC) ou a associação a projetos, como o Piloto das Unidades de Apoio ao Alto Rendimento no Ensino Superior (UARRE Superior), trabalhamos, sobretudo, para criar um contexto de igualdade de oportunidades que só é possível com a sensibilização de toda a comunidade académica, mas também com o compromisso do estudante-atleta.
O Papel do Atleta na Comunidade
O impacto de um estudante-atleta vai muito além do sucesso individual. Estes jovens são agentes de mudança. A experiência de competir nos Jogos — um evento que é simultaneamente espetáculo e celebração da humanidade — molda-os de forma única. Resiliência, disciplina, gestão do tempo, trabalho em equipa e superação são valores intrínsecos que, integrados na sociedade, se transformam em ferramentas para o progresso coletivo.
É essencial que instituições de ensino, empresas e organizações compreendam o potencial destas pessoas. Elas não são apenas desportistas ou estudantes. São símbolos de cada nação, são pontes entre mundos, capazes de levar para a sociedade as aprendizagens adquiridas nos estádios, nos campos, nas suas vivências e nas salas de aula.
Os Jogos como Arte e Poesia
No final, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, com o seu simbolismo e universalidade, são uma metáfora viva da humanidade. A luta pelo ouro não é apenas uma competição. É uma afirmação da criatividade, do esforço e da beleza. É a celebração de que o ser humano é capaz de superar barreiras, criar pontes e, tal como na poesia, encontrar sentido na busca pela perfeição.
A UC orgulha-se de fazer parte desta narrativa poética e é com este espírito que continuaremos a apoiar, inspirar e formar aqueles que, com os seus gestos e palavras, constroem um mundo mais justo e humano.
Que sejam os nossos estudantes-atletas as vozes desta poesia viva, transformando-a num legado de arte, cultura, superação e transcendência.