Universidade de Coimbra: Universidade Empreendedora
«A Universidade de Coimbra (...) é uma instituição (...) que especificamente visa (...) a cooperação com a comunidade, numa perspectiva de valorização recíproca» in Estatutos da Universidade de Coimbra (UC)
Gabriela Fernandes
Sendo as universidades, por excelência, centros de produção e difusão do conhecimento, não podem ficar alheias aos novos desafios da sociedade e economia do conhecimento, cabendo-lhes um papel vital de suporte à sua melhoria e evolução. Quando a presente equipa reitoral definiu os eixos de intervenção para o seu mandato, ficou desde logo clara a aposta na consolidação da aproximação da UC à sociedade, nas suas diferentes valências. Fazendo uso de uma estrutura ágil sob a coordenação da reitoria, fortaleceram-se as duas unidades operacionais para implementação e consolidação no terreno das iniciativas preconizadas no plano estratégico da nossa universidade: o Student Hub, focado nas ações de sensibilização e capacitação para o empreendedorismo transversais a toda a comunidade universitária; e a UC Business, focada na valorização do conhecimento e da tecnologia no âmbito da terceira missão universitária.
A UC Business e o Student Hub têm vindo a executar no terreno um ambicioso plano de ação de empreendedorismo estruturado em três grandes pilares de ação complementares entre si, cimentando várias iniciativas bem-sucedidas anteriormente implementadas, e acrescidas de novas atividades que visam colmatar e explorar novas oportunidades:
Capacitação: visando promover o espírito empreendedor de cada elemento da comunidade e desenvolver competências empreendedoras, o pilar da capacitação, catalisado pelo Student Hub, tem-se desdobrado em atividades de formação e no desenvolvimento de programas e competições de ideação/geração de ideias. Destacam-se, neste pilar, a criação de novas unidades curriculares de ensino ao empreendedorismo, transversais a todas as licenciaturas e mestrados da UC enquanto disciplinas opcionais; a consolidação das atividades da Académica Start UC e os seus atuais 27 estudantes embaixadores para o empreendedorismo; os programas de ideação Empreend UC, European Innovation Academy e Explorer; e a continuação da aposta em iniciativas já consolidadas e (re)conhecidas nacional e internacionalmente, como o Arrisca C e o Innovation Days. Criou-se, ainda, um único local na web que congrega todas as atividades de promoção do empreendedorismo e capacitação, anteriormente dispersas no éter digital e agora concentradas em www.uc.pt/empreendedorismo.
Valorização da Tecnologia e Conhecimento: com o intuito de estimular a criação de valor socioeconómico a partir de resultados de investigação com potencial de transferência, quer para o setor empresarial, quer através do incentivo à criação de spin-offs académicas baseados em tecnologia/conhecimento por parte de estudantes, investigadores e docentes, a UC Business tem promovido um conjunto de iniciativas de relevo que importa recordar. São elas o desenvolvimento do programa de aceleração Acelera@UC; o apoio à fase de conceção e pré-arranque de spin-offs, em estreita articulação com centros de I&D e rede de incubadoras da região, com destaque natural para o Instituto Pedro Nunes (no Top 10 das melhores incubadoras académicas do mundo); a organização da Startup Capital Summit, que se pautou por um enorme sucesso, com a presença de 1100 participantes em 10 de maio 2024; ou ainda a conceção do recentemente aprovado Regulamento de Spin-offs da Universidade de Coimbra (Regulamento n.º 278/2024 | DR).
Dinamização do ecossistema de empreendedorismo: através do alinhamento estratégico entre os vários atores que impulsionam o empreendedorismo e a inovação, atuando a vários níveis — universitário (dinamização da rede de docentes de empreendedorismo e inovação, rede de Junior Empresas/Iniciativa da UC); regional (promovendo a realização de programas estratégicos de inovação de âmbito regional como por exemplo o INOV C+, iniciativas em parceria com o município, entre outros); nacional (dinamização da Metared X Portugal); e internacional (com a colaboração ativa em projetos estratégicos para a UC, como o EC2U, o EITHealth ou o HIVE).
Importa ainda salientar que, de forma transversal aos pilares acima apresentados, a UC tem envidado esforços para alinhar o quadro normativo e legal, de modo a facilitar o crescente envolvimento de todos os membros da comunidade nas atividades propostas. Um exemplo disso é a criação, no final de 2022, do Perfil de Transferência e Valorização do Conhecimento, que permite aos docentes interessados em dedicar-se mais intensamente a esta vertente, como a criação e desenvolvimento de uma spin-off baseada no conhecimento gerado pela sua investigação, solicitando ao conselho científico da sua faculdade a alteração de perfil. Essa alteração possibilita uma redução significativa na carga letiva (Despacho n.º 12300/2022 | DR).
Tem sido, pois, um desafio ambicioso de consolidação do trabalho que a UC tem vindo a desenvolver há várias décadas neste domínio, acrescido de diversas novas iniciativas que se têm pautado pelo sucesso. Trata-se de um repto verdadeiramente empreendedor, onde as atividades acima descritas são apenas a ponta do icebergue. A parte invisível prende-se com a angariação de financiamento de suporte à atividade. O retorno para a sociedade das tarefas de valorização do conhecimento é por demais evidente no que diz respeito à riqueza criada (qualquer que seja o indicador que pretendamos analisar). Deveria, pois, ser objeto de um apoio contínuo no tempo que possibilitasse uma base mínima de operação e que alavancasse a angariação de novos fundos. Em vez disso, a UC, tal como todas as IES nacionais que aspiram promover o empreendedorismo e inovação, está dependente da calendarização de editais de financiamento para iniciativas desta natureza (quando as há) ou à inexistência dos mesmos. Um jogo de tudo ou nada, em que durante um intenso (mas finito e reduzido) período de tempo existem recursos e noutros (finitos é certo, mas demasiado longos), um deserto. É tempo de refletirmos sobre a existência de um financiamento mínimo, contínuo, equitativo para todas as IES, para unidades universitárias de estímulo ao empreendedorismo e inovação. O país ficaria a ganhar!