MENSAGEM DO REITOR

Ao
longo da sua secular existência, a Universidade de Coimbra (UC) sempre se pautou
como uma instituição “à frente do seu tempo”. Outra coisa não seria de esperar de
uma Escola onde em permanência se (re)cria o conhecimento, o maior antídoto da erosão
temporal que conduz à cristalização de muitas instituições.
A UC respira “sustentabilidade”
e sabe que cada dia que passa é tempo precioso que se esvai para a implementação
de medidas preventivas e corretivas (vulgo sustentáveis): os/as jovens reclamam uma
efetiva mudança de políticas ambientais; a comunidade científica nacional e
internacional aponta, de forma consensual e inequívoca, os riscos em que a
humanidade incorre ao degradar de forma insensata o seu próprio habitat; e quase todas as principais lideranças mundiais – com especial destaque para a
Organização das Nações Unidas (ONU) – elegem, como prioridade indiscutível dos próximos
anos, a ação climática.
Embora a sociedade se sinta confrontada de forma
intensa com esta emergência, medidas imprescindíveis, conducentes ao equilíbrio
que urge sem falta alcançar, revelam-se ainda incipientes, quer na forma quer no
ritmo.
O espaço da ciência, da tecnologia e do ensino mais avançado constitui a
envolvente em que somos convocados a forjar ideias e a inventar soluções para
um mundo melhor, sobretudo quando nos depararmos com a ausência de um rumo coletivo
(bem) definido e estruturado ou politicamente assumido.
As
universidades não podem permanecer indiferentes à emergência climática.
Não
podem conduzir‑se como estruturas imobilizadas e estagnadas no tempo, incapazes
de enfrentar os desafios societais. Não podem censurar medidas potencialmente
reformadoras, porque julgadas inconvenientes ou suscetíveis de comentário
depreciativo.
O inconformismo, a crítica construtiva e a reivindicação baseada
em dados factuais são princípios que nos devem mover, mau grado a agitação
social que porventura a sua adoção possa originar, por parte de algumas mentalidades
instituídas.
Tais princípios pretendem, tão-só, traduzir o propósito de uma
postura pedagógica associada à difusão do conhecimento.
A UC, com o peso do seu
legado, arca uma responsabilidade acrescida face à crise, grave e real, das
alterações climáticas, devendo outrossim sacudir lógicas dominantes – mormente
se de mera natureza política, carentes de substrato científico – agindo em prol
das gerações de amanhã.
A ciência
prenuncia um cenário sombrio – verdadeiro e objetivo – mas, ao mesmo tempo, revela
que está ao nosso alcance reverter o seu (do cenário) horizonte, se agirmos globalmente
empenhados.
Se desde 2010 se houvesse começado a eliminar ou a mitigar as
emissões de CO2 provocadas pela espécie humana, deveria constatar-se
um seu declínio global de 45% até 2030 e a obtenção de um balanço nulo por
volta de 2050. Contudo, este desiderato só será concretizável com uma transição
célere e abrangente, envolvendo energia, solos, transportes, edifícios e
sistemas industriais, à luz dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
De facto, estes foram objetivos fixados pela ONU na sua Agenda 2030, a fim de procurar
comprometer entidades governativas, sociedade civil, comunidades locais e
sector privado numa cooperação internacional estreita e efetiva.
Enquanto
universidade, fomos a primeira a assumir tal compromisso de forma pública e
inequívoca.
Aproveitando o trabalho desenvolvido no passado recente, pretendemos
incrementar o debate crítico, a criação de ideias e a avaliação das medidas pré-existentes,
trazendo à colação investigadores/as das mais diversas vertentes da ação climática.
Assim sendo, é possível posicionar estrategicamente a UC na vanguarda em
contexto nacional e internacional, a par das maiores referências nas políticas
de sustentabilidade, fomentando a constituição de cooperações e consórcios com
entidades externas, para partilha de experiências.
Mediante
uma tal capacidade inovadora instalada, o nosso objetivo é tornarmo-nos, em
Portugal, uma plataforma central de discussão científica (aberta à sociedade e
sob a chancela da ONU) das grandes causas das alterações climáticas e de inerentes
ações a realizar em defesa do meio ambiente.
Não se trata apenas da componente
informativa. Acima de tudo, pretende-se que sejamos veículo de promoção de
propostas credíveis e fundamentadas, dirigidas a todos os/as agentes de mudança.
E, sem sombra de dúvida, devem ser os/as estudantes os nossos principais aliados/as e
porta-vozes de projetos disruptivos, em vista da consecução dos ODS.
Além
disso, uma universidade de investigação, como a nossa, tem a obrigação de
mitigar o seu próprio impacto ambiental, promovendo, dinamizando e acompanhando
ações congeminadas e desenvolvidas no seio da Academia.
Está ao nosso alcance:
1) estimular a reflorestação local e regional de zonas afetadas por fenómenos
extremos – infelizmente, cada vez mais frequentes –, como incêndios ou
tempestades, estabelecendo colaborações com entidades responsáveis pela
conservação da natureza;
2) constituir e preservar um cada vez maior número de
espaços verdes e de lazer no perímetro universitário, proporcionando uma
ligação forte e conciliadora entre a comunidade académica e o meio envolvente,
e tornando os espaços mais aprazíveis;
3) eliminar totalmente os produtos de
plástico de uso único das instalações universitárias, recorrendo a matérias‑primas
naturais e biodegradáveis;
4) promover a desmaterialização de procedimentos e
arquivos baseados no consumo de papel para plataformas digitais;
5) fomentar a
cultura de combate ao desperdício de recursos alimentares, promovendo a sua
eficiência, monitorizando os índices de desaproveitamento e revendo igualmente
as ementas servidas, de molde a enriquecer a oferta de pratos ambientalmente
sustentáveis;
6) potenciar a eficiência energética e as energias renováveis nas
nossas infraestruturas, reduzindo o consumo de eletricidade, água e gás;
7) diminuir
o trânsito na zona histórica da UC, viabilizando a crescente utilização de uma
rede de veículos elétricos que descongestione e proteja o património e o
ambiente.
Acreditamos
que a neutralidade carbónica em 2030 na UC está ao nosso alcance.
Pelo planeta,
pela juventude, pela humanidade!
Amílcar Falcão