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Episódio #7 | FINGER-PT: rastrear o passado do nosso planeta a partir de pequenos fragmentos de rochas

O projeto FINGER-PT – Rastreando zonas de subducção fria e da tectónica de placas usando minerais-chave conquistou mais de 2,4 milhões de euros do Conselho Europeu de Investigação. A investigação está a usar pequenos pedaços de rochas – minerais pesados - para encontrar informações, que hoje desconhecemos, sobre a evolução da tectónica de placas ao longo do tempo, ou seja, sobre a história das rochas que se vão movendo muito lentamente na Terra, sendo responsáveis pela sua reconfiguração ao longo do tempo.

Publicado a 23.06.2025

O solo que todos os dias pisamos é composto por diversos elementos. E tudo aquilo que preenche este grande terreno é impactado, ao nível do clima e da biodiversidade, pelo que acontece no interior do nosso planeta. Todos os dias, a litosfera – a parte sólida mais externa da Terra – é afetada por diversos fenómenos. Mas será que esta atividade do planeta que decorre longe dos nossos olhos terá sido sempre assim? Como é que esta movimentação acontecia quando a Terra se formou, há quase 4,6 mil milhões de anos? E quando é que esta dinâmica teve início? Como é que as primeiras cadeias de montanhas se formaram? É em busca de respostas para estas questões que nasceu o projeto FINGER-PT – Rastreando zonas de subducção fria e da tectónica de placas usando minerais-chave.

Liderado pela Universidade de Coimbra (UC), e financiado com quase 2,5 milhões de euros pelo prestigiado Conselho Europeu de Investigação, o FINGER-PT foca-se na evolução da tectónica de placas – que podemos descrever como o movimento de grandes blocos de rocha que dão origem à formação de montanhas, a erupções vulcânicas ou a terramotos – para “tentar dizer quando, na história da Terra, começamos a ter tectónica de placas como temos atualmente, com estas zonas de subducção semelhantes às que temos no Anel de Fogo do Pacífico, uma zona de grande instabilidade geológica, com muita atividade sísmica e vulcânica”, explica a investigadora do Centro de Geociências (CGeo) do Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (DCT/FCTUC), Inês Pereira, que coordena este projeto de investigação.

“Apesar dos grandes esforços para a compreender, ainda não sabemos exatamente quando é que esta incrível dinâmica começou a operar. Apenas sabemos que, quando a Terra se formou há cerca de 4 570 milhões de anos, ela não existia, embora se saiba hoje em dia que existe há pelo menos 1 000 milhões de anos”, partilha a investigadora da UC. Procurando esclarecer esta dúvida que persiste sobre a tectónica de placas, a equipa do FINGER-PT está a “estudar minerais – o rútilo, a titanite e a granada –, preservados em rochas sedimentares - que se formaram em antigos rios ou em praias -, para rastrear as condições de metamorfismo e conseguir descobrir quando é que a tectónica de placas começou a tomar a forma que tem hoje”, esclarece Inês Pereira. A análise destes sedimentos é feita a partir da sua composição química, que “nos permite estudar estes registos do passado, pois todos eles surgiram de uma rocha, que foi impactada pela tectónica de placas”, justifica.

O fascínio por esta possibilidade de o passado ser revelado através de pequenos grãos move esta jovem investigadora, embora Inês Pereira esteja também ciente dos desafios que acarreta uma abordagem tão experimental: “pegar em pequenos grãos e, a partir unicamente da informação que têm em si determinar a pressão, a temperatura e a idade a que se formou a rocha que lhes deu origem é um grande desafio”. Para trazer respostas concretas a esta abordagem inovadora, foram criados, no âmbito do FINGER-PT, dois novos laboratórios, sediados no Departamento de Ciências da Terra da UC: o e-Microscale Lab, que permite a microscopia eletrónica de varrimento e espectroscopia Raman, para estudar o tipo e as texturas dos minerais; e o i-Geochronos, onde é feita a análise da composição isotópica e de elementos-traço dos minerais, permitindo, por exemplo, a determinação da sua idade.

Para Inês Pereira, a conquista de uma bolsa altamente competitiva vai além da possibilidade de conseguir financiar este projeto. Trata-se também de uma oportunidade para regressar a Portugal – depois de uma temporada em França em pós-doutoramento – para alguém que sempre teve “uma grande vontade de voltar ao país, apesar do subfinanciamento crónico da ciência em Portugal, sobretudo na ciência fundamental, para trabalhar e ensinar outros colegas”, partilha.

Os colegas são também um elemento-chave no caminho que tem vindo a ser percorrido no âmbito desta investigação, a começar pela equipa do Núcleo das Áreas Estratégicas da Universidade de Coimbra que, aquando do regresso de Inês Pereira a Portugal no verão de 2022, foi “uma equipa fantástica, que me motivou a apresentar e a seguir em frente com este projeto, apesar de todos os receios que tinha em apresentar o FINGER-PT a financiamento e de passar de pós-doutorada a investigadora principal”, confessa a investigadora.

Também a equipa de investigação do FINGER-PT, e as suas diversas valências em áreas como a geologia ou as ciências da educação, é essencial para a concretização deste projeto e a sua futura transferência de conhecimento quer para a academia – através de dissertações de mestrado, de teses de doutoramento ou da publicação de artigos científicos –, como também para a sociedade, em particular para o público escolar. “Vamos apostar numa perspetiva que eu também sempre quis trazer para o projeto: pegar numa investigação de ciência fundamental e retirar do projeto informações que permitam fazer uma aplicação na educação, em particular em recursos didáticos para estudantes dos ensinos secundário e superior”, avança a investigadora.

Além de todas estas colaborações em território nacional, os caminhos do FINGER-PT cruzam-se com outros países. As colaborações internacionais com outros investigadores – de França, Canadá ou Itália – vão ter também um papel preponderante, pois vão apoiar o desenvolvimento de algumas tarefas de amostragem e também atividades mais experimentais, como a criação de pequenas rochas. Um pouco por todo o mundo – uma vez que o trabalho de campo vai passar por vários continentes do planeta Terra – o FINGER-PT está hoje em busca de novas informações que nos permitam saber mais sobre o passado milenar do nosso planeta.

Assista ao vídeo sobre o FINGER-PT

Ficha Técnica


Nome FINGER-PT – Rastreando zonas de subducção fria e da tectónica de placas usando minerais-chave

Coordenação Centro de Geociências do Departamento de Ciência da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra

Website

www.uc.pt/fingerpt
Duração 5 anos (1 de maio de 2024 a 30 de abril de 2029)

Financiamento 2 499 961 euros
Entidade financiadora

Conselho Europeu de Investigação, através do programa Horizonte 2020 da Comissão Europeia

Número de investigadores envolvidos 4 investigadores
Áreas de investigação envolvidas

Ciências da Terra

Produção e Edição de Conteúdos: Catarina Ribeiro, DCM e Inês Coelho, DCM

Imagem e Edição de Vídeo: Ana Bartolomeu, DCM e Maria Cano, DCM