Palestrante: Professora Doutora Luísa Trindade - FLUC

A partir de documentação coeva, com destaque para o Tombo da Câmara de Coimbra, realizado em 1532 com o intuito de registar as propriedades concelhias, proponho analisar um dos tipos de habitação corrente que, no século XVI, caracterizou as cidades portuguesas de maior dimensão, utilizando para tal Coimbra como campo de ensaio. Refiro-me ao prédio inscrito em lote estreito e comprido, constituído por sótão (piso térreo) e dois, três ou quatro sobrados de altura (nomenclatura da época para os pisos superiores). Um tipo comum a muitos núcleos urbanos, ainda que necessariamente circunscrito às áreas de maior dinamismo comercial, onde a densidade era mais elevada e o solo mais caro. Exemplo disso, seria a Rua da Calçada (atual Ferreira Borges) sobretudo nos edifícios que a bordejavam pelo lado poente, delimitando igualmente o lado nascente da Praça Velha. Parte deste casario era habitado por mercadores, reservando-se frequentemente o piso térreo para atividades artesanais e comerciais: a tenda, loja ou oficina onde, simultaneamente, se fabricava e vendia, expondo os produtos em bancas montadas na rua. Da caracterização física à expressão de uma realidade sociocultural, sem esquecer as implicações legislativas a propósito da relação sempre tensa entre espaços privados e públicos, pretendo igualmente chamar a atenção para um património histórico invariavelmente ameaçado porque mal conhecido e compreendido. E também aqui, Coimbra é exemplo.


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