Julho de 2024 | Doenças Neurológicas
Sob o mote de assinalar uma efeméride, um/a clínico/a e um/a investigador(a) com trabalho reconhecido em determinada área apresentam um conjunto de doze faixas à sua escolha numa playlist. Nesta rubrica mensal, pretende-se, por um lado, relevar uma temática de saúde e, por outro, dar a conhecer o que estas duas pessoas gostam de ouvir.
Desde 2014 o Dia Mundial do Cérebro é assinalado a 22 de julho com o intuito de promover a literacia sobre as doenças neurológicas, melhorar o acesso a cuidados de saúde de qualidade e defender a priorização na saúde mundial das questões de saúde do cérebro. O dia escolhido coincide com o aniversário da fundação da Federação Mundial de Neurologia no ano de 1957. A maior organização internacional no campo da neurologia agrega 124 sociedades nacionais em todas as regiões do mundo e objetiva a promoção da formação nesta área a nível mundial, com particular incidência em zonas com menos recursos. A campanha de 2024 advoga a importância da saúde do cérebro e da prevenção de condições neurológicas que já são a principal causa de doença e incapacidade em todo o mundo. De acordo com o 2021 Global Burden of Disease Study, 43% da população mundial sofreu um declínio da saúde do sistema nervoso. São listados como os principais agentes da diminuição da saúde neurológica global o acidente vascular cerebral (AVC), a encefalopatia neonatal (lesão cerebral), a enxaqueca, a doença de Alzheimer e outras demências, a neuropatia diabética (lesão nervosa), a meningite, a epilepsia, complicações neurológicas do nascimento prematuro, perturbação do espetro do autismo e cancros do sistema nervoso.
Em Portugal a doença vascular cerebral é a principal causa de morte e de incapacidade, e por conseguinte, um dos seus maiores problemas de saúde pública do país. Estima-se que ocorram 3 AVC a cada hora do dia, 1 deles sendo fatal, e que metade dos sobreviventes fiquem com sequelas incapacitantes. A Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral (SPAVC) alerta para o crescente número global de mortes por AVC isquémico (no seguimento de entupimento de vasos cerebrais). Com base nos dados do 2021 Global Burden of Disease Study, a SPAVC sublinha que 90% dos casos são evitáveis mediante atuação sobre os fatores de risco modificáveis como o sedentarismo, a obesidade, a hipertensão arterial, os níveis elevados de colesterol, o tabagismo, a fibrilação auricular, a diabetes e o consumo excessivo de bebidas alcoólicas. As mulheres estão mais propensas a sofrer e a morrer de AVC mas com a idade a probabilidade aumenta tanto para o género feminino como para o masculino. Já ter sofrido um AVC, um acidente isquémico transitório (AIT) ou ataque cardíaco e/ou haver um histórico da doença na família aumenta o risco de futuro AVC. Demências - de origem vascular ou a doença de Alzheimer -, a doença de Parkinson, as enxaquecas, a epilepsia e a esclerose múltipla são outras patologias neurológicas que afetam significativamente a população nacional.
Filipa Baptista é doutorada (2012) em Biociências com especialização em Biologia Celular e Molecular e licenciada (2006) em Biologia pela Universidade de Coimbra (UC). Completou dois pós-doutoramentos no Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro e na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC). Desde 2018 é investigadora contratada pelo Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia (CiBB) integrada no grupo Neuropsychopharmacology and Brain Diseases do Instituto de Investigação Clínica e Biomédica (iCBR-FMUC), unidade de I&D onde também coordena os seminários institucionais. É colaboradora efetiva do Coimbra Institute for Biomedical Imaging and Translational Research (CIBIT) e integra a COST Action (CA22114) para o estudo dos efeitos nefastos do stress materno perinatal em crianças. Filipa Baptista está dedicada ao estudo do impacto da diabetes materna e stress pré-natal no cérebro da descendência, bem como das possíveis implicações a longo prazo no comprometimento cognitivo e nas perturbações psiquiátricas. Filipa Baptista também tem vindo a investigar as diferenças de sexo na apresentação clínica de perturbações psiquiátricas, abrindo novos caminhos para intervenções terapêuticas que contemplem diferenças de sexo. Envolve-se frequentemente em atividades de divulgação científica, nomeadamente a Semana Internacional do Cérebro, a Noite Europeia dos Investigadores bem como outras iniciativas em diversos níveis de ensino.
Liliana Letra é doutorada (2018) em Ciências da Saúde com especialização em Medicina, mestre (2008) e licenciada (2007) em Medicina pela UC. É pós-graduada (2008) em Avaliação do Dano Corporal Pós-Traumático pela mesma instituição e médica especialista em Neurologia pela ULS Coimbra. É médica assistente no Hospital Infante Dom Pedro - Aveiro e foi perita médico-legal no Hospital Nossa Senhora da Graça em Tomar. Em 2023 concluiu um Curso de Especialização Avançada em Avaliação Neuropsicológica em Adultos e Idosos, bem como um programa de educação Médica e Pós-Graduada pela Harvard Medical School. É investigadora no iCBR-FMUC e no CIBIT. Exerce funções como professora auxiliar convidada na Faculdade de Medicina, na Faculdade de Letras na Faculdade de Ciências e Tecnologias da UC, onde leciona unidades curriculares do campo da Fisiologia nas licenciaturas em Engenharia Biomédica e Química Medicinal, no mestrado em Engenharia Biomédica, nos mestrados integrados em Medicina e Medicina Dentária bem como no Doutoramento em Património Alimentar: Culturas e Identidades. Exerce ainda funções de docência na Universidade dos Açores e na Universidade de Cabo Verde. Liliana Letra é palestrante convidada na Pós-Graduação em Dor da FMUC e no mestrado em Terapia da Fala da Universidade de Aveiro. Desempenha funções de arbitragem científica nas revistas científicas internacionais Diabetology & Metabolic Syndrome, International Journal of Preventive Medicine, Journal of Alzheimer’s Disease, Peptides, PeerJ, European Journal of Nutrition, Psychoneuroendocrinology e BMJ Case Reports.