Doença rara não impediu Maria José de concluir curso superior

20 outubro, 2025≈ 4 mins de leitura

Fomos notícia, Diário de Coimbra, 17 de outubro

Transcrição da Notícia

Lembra-se de Maria José Santos, a jovem estudante de Ciências Farmacêuticas da Universidade de Coimbra, que participou pela primeira num cortejo da Queima das Fitas na edição de 2024, com a ajuda de uma cadeira de rodas elétrica, que decorou com flores roxas (a cor da sua faculdade)? Pois bem, depois ultrapassar e contornar barreiras – visíveis e invisíveis – Maria José concluiu, ontem, o mestrado integrado, com a defesa da tese.

«Já está, já sou farmacêutica», adianta a jovem de 23 anos, natural e residente na Figueira da Foz, diagnosticada, desde setembro de 2012, com atrofia muscular espinhal crónica distal, uma doença rara que lhe causa dificuldades de mobilidade, mas que não a impediu de realizar o sonho de concluir o curso. «Foi uma conquista, uma luta grande. Estava muito nervosa antes de defender a tese», conta.

«O percurso académico foi um verdadeiro desafio de superação de inúmeras "barreiras invisíveis" - intervenções cirúrgicas, consultas multidisciplinares (CHUC, HDFF e clínicas privadas), sessões bi-semanais de fisioterapia e dias de dor intensa», conta o pai Fernando Santos, orgulhoso de mais uma vitória e lição de superação da sua menina.

Com a defesa da tese concluída, Maria José aguarda, agora, o lançamento da nota para, depois, se inscrever na Ordem dos Farmacêuticos e ingressar, o quanto antes, no mercado de trabalho. Com estágios realizados em farmácia comunitária e em farmácia hospitalar, é esta última que mais a motiva, por isso, até está a equacionar, no próximo ano, fazer a especialização, conta ao Diário de Coimbra.

A doença afeta-lhe a motricidade e a locomoção, o que a obriga, muitas vezes, a andar de cadeira de rodas. Escrever também não é nada fácil, como tal, tenta sempre recorrer a material digital para não deixar nada por escrever (até criou a página de Instagram “Barreiras Invisíveis”).

Quando iniciou o ensino secundário, Maria José sonhava em ser médica, mas, como não conseguiu nota para se candidatar, optou por Ciências Farmacêuticas. Hoje, está certa de que foi a melhor opção e afirma com convicção: «sou apaixonada pela profissão».

Foi aos 10 anos que a família de Maria José Santos recebeu o diagnóstico de atrofia muscular espinhal crónica distal. À data, a menina não percebia o que estava a acontecer. Sabia que não conseguia fazer o que os outros meninos faziam. Caía frequentemente, não conseguia correr, tinha dificuldade em escrever e abotoar um botão. «Era um stress» e cansava-se muito a andar, como chegou a escrever num testemunho da rubrica “Para além dos desafios” da revista O Pilão do Núcleo de Estudantes de Farmácia da Associação Académica de Coimbra.

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