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Abílio Fernandes

Abílio Fernandes (Maçaínhas, Guarda, 19 de Outubro de 1906, – Coimbra, 16 de Outubro de 1994) teve uma longa vida a estudar plantas, a leccionar e a dirigir a botânica na Universidade de Coimbra. Logo que se formou, em 1927, começou a lecionar no Instituto Botânico Júlio Henriques. Durante dez anos, adquiriu a experiência que o fez superar um grande desafio – a morte súbita do ditretor Luís Carrisso. Terá sido o sucessor natural imediato de Carrisso, não fosse o facto de ainda não ser professor catedrático e de novas nomeações terem sido suspensas entre 1936 e 1942. No entanto, muitas foram as responsabilidades que assumiu e em 1942 tornou-se o 16º diretor de botânica de Coimbra durante os 32 anos seguintes.

Eram dias em que a ditadura de Salazar tentava em simultâneo silenciar a oposição e facilitar a vida com algum desenvolvimento no país. Começou um período de construção moderna na Universidade de Coimbra e Fernandes garantiu que a botânica iria beneficiar deste clima. Uma parte importante do mosteiro de S. Bento foi, finalmente, destinada à botânica e foram construídos dois laboratórios de ensino no exterior do edifício principal. Havia então espaço suficiente para a biblioteca, que tinha crescido substancialmente, para um museu, um auditório, muitos escritórios e um grande espaço para o herbário. Um aspecto interessante desta renovação foi o próprio mobiliário, todo do mesmo estilo, grandes armários, secretárias e mesas de madeira maciça, feitos por partes e depois montados no local. No jardim muito se fez, desde a substituição de muitas toneladas de solo até à construção de escadas, muros, grades, a estufa fria e os memoriais aos dois anteriores diretores, Henriques e Carrisso.

Na época de Fernandes, o herbário mais do que duplicou o seu conteúdo. Ressuscitou a estratégia de Henriques e organizou muitos antigos alunos para colaborarem com a Sociedade Broteriana enviando para Coimbra exemplares de toda a África e Portugal. Ele próprio organizou muitas viagens de recolha por Portugal. Em 1959, tornou-se também diretor do Centro de Botânica da Junta de Investigações do Ultramar até se reformar completamente em 1974. Grande parte do seu contributo para a botânica africano foi através deste centro de investigação em Lisboa. Não colheu muito em África, mas através do Centro de Botânica enviou muitos para lá colher, incluindo botânicos de Coimbra, como Jorge Paiva.

Apesar de toda esta atividade administrativa, Fernandes manteve um fluxo constante de publicações de investigação (c. 350), a maioria sobre a citotaxonomia de Narciso. Foi o biólogo que, pela primeira vez, demonstrou que a heterocromatina era total ou parcialmente inerte. Manteve também por c. 20 anos um projecto de contagem do número de cromossomas da flora portuguesa. As sementes selvagens foram cultivadas no jardim e os espécimes de referência foram incluídos no herbário juntamente com algumas lâminas de pontas de raízes.

Após se ter reformado em 1974, Abílio Fernandes continuou a trabalhar no seu escritório e escreveu muitos outros artigos, muitas vezes sobre aspectos históricos da botânica em Coimbra. Reconheceu diligentemente todas as contribuições que conseguiu recordar da equipa do Instituto Botânico.

Durante toda a sua vida profissional, Fernandes contou com a presença da sua mulher, Rosette Batarda, taxonomista de plantas em Coimbra e juntos publicaram muitos artigos científicos.

Regularmente o seu trabalho foi reconhecido no país e no estrangeiro, sendo um dos últimos pelo Presidente da República com a Grã-Cruz da Ordem de Instrução Pública.

Abílio Fernandes era um cavalheiro, elegant, trabalhador, muito dedicado à botânica em todas as suas vertentes, investigação, ensino e gestão. Assegurou e expandiu o trabalho dos seus antecessores.