Fátima Sales
Departamento de Ciências da Vida / Herbario da Universidade de Coimbra
John Gossweiler (Regensdorf 1873 - Lisboa 1952) foi um botânico suíço formado sobretudo no Reino Unido que, aos 26 anos, partiu para Angola trabalhando para o governo português. O seu primeiro emprego foi através de Júlio Henriques, director em COI, (ver carta a JH de 20.x.1898). Manteve contacto com Henriques ao longo dos anos e trocaram correspondência sobre os seus assuntos botânicos em Angola – passando muito rapidamente do inglês para um bom português.
Ao longo dos 50 anos seguintes (até à sua morte), o cerne das suas diferentes tarefas em Angola (por exemplo, carta a Henriques de 17.ii.1905) foi sempre avaliar o potencial da colónia para a agricultura. Durante a maior parte do tempo, trabalhou nos Serviços de Agricultura, período em que foi também director do Jardim Colonial do Cazengo, com uma curta interrupção entre 1920-26, altura em que esteve na Sociedade de Fomento Geral de Angola. Gossweiler aceitou também muitas comissões de serviço diferentes para o governo português, que o levaram a viajar por toda a Angola. Adquiriu um grande conhecimento da vegetação, das pessoas, do país e entre 1902 e 1946 recolheu mais de 14.000 exemplares, com muitos duplicados. Gosseweiler estudou as fontes vegetais indígenas da borracha, investigou doenças da planta do café, iniciou uma estação experimental de algodão, investigou a vegetação do Maiombe português e trabalhou em plantações de cana-de-açúcar. Viajou também duas vezes por África, em 1902 (carta a Henriques de 25.i.1902) e em 1934.
Veio para Coimbra em 1933 para estudar os seus exemplares e em 1936 para investigar a fitogeografia de Angola. AS suas etiquetas em COI foram escritos pelo próprio durante essas visitas. Fez ainda amizade com o então diretor de COI, Luís Carrisso, Francisco Mendonça e Arthur Exell, do Museu Britânico, em Londres, todos envolvidos na viagem de recolha de 1937 a Angola. Gossweiler tornou-se membro desta expedição de mais de 13.000 km – a mesma que assistiu à morte súbita de Carrisso no sul de Angola. Fez uma terceira visita a COI em 1938 para a publicação da Carta Fitogeográfica de Angola, tendo Mendonça como colaborador. Gosseweiler publicou vários artigos botânicos, sendo os mais importantes sobre a flora exótica de Angola, vários sobre nomes indígenas de plantas e a flora do Maiombe português.
O trabalho pioneiro de Gossweiler em África resultou em muitos espécimes-tipo e os seus espécimes são um grande trunfo para a publicação do Conspectus Flora Angolensis e de qualquer trabalho botânico em África. As suas coleções são sobretudo de plantas com flor, mas também há fungos, musgos e algas. A maioria está em COI (já digitalizadas) e em LISC.
Nas suas próprias palavras, Gossweiler era (in Bol. Soc. Brot. 2: 296. 1939): “Técnico especializado de nacionalidade suíça, a trabalhar para o Governo Geral de Angola. Durante as suas missões e trabalho com a Direcção dos Serviços de Agricultura fez importantes recolhas em todos os distritos da colónia, mas principalmente no Maiombe português. Em 1937 participou como adido da missão botânica do Dr. L.W. Carrisso. As suas coleções encontram-se no Jardim Colonial de Lisboa (LISJC a LISC) e nos herbários das Universidades de Lisboa (LISU) e de Coimbra (COI). A coleção principal encontra-se no British Museum (BM), em Londres, e alguns duplicados foram enviados gratuitamente para os herbários de Kew (K), Berlim (B) e Washington (EUA).”