Fátima Sales
Departamento de Ciências da Vida / Herbario da Universidade de Coimbra
Jorge Américo Rodrigues de Paiva (Cambondo, Cazengo, Angola, 17 de Setembro de 1933) passou a infância em Angola, mas licenciou-se em Ciências Biológicas pela Universidade de Coimbra em 1958. Obteve o doutoramento em Biologia pela Universidade de Vigo (Espanha) em 1993. Em 1959 Paiva ingressou no Instituto Botânico da Universidade de Coimbra e começou a trabalhar nas floras de Angola e Moçambique. Continuou a sua carreira neste instituto como Naturalista (1961), Assistente (1964), Investigador e Investigador Principal até à sua reforma em 1997, no que veio a ser o Departamento de Botânica. A reforma foi simplesmente a oportunidade de se concentrar nas atividades que sempre o entusiasmaram mais.
Paiva lecionou nas Universidades de Coimbra (Instituto Botânico e Faculdade de Farmácia), de Aveiro e da Madeira, na Universidade Vasco da Gama em Coimbra, no Instituto Superior de Tecnologia de Viseu e na Universidade de Vigo (Espanha). Como taxonomista, trabalhou durante três anos nos herbários dos Royal Botanic Gardens, em Kew, e do então British Museum, em Londres.
Os contributos de Paiva para a ciência são múltiplos. Especializou-se e publicou globalmente no grande género Polygala. Foi um dos fundadores do projeto Flora iberica e envolveu o Herbário de Coimbra no projeto; colaborou também em muitas floras africanas (Catalogue des Plantes Vasculaires du Nord du Maroc, Conspectus Florae Angolensis, Flora de Cabo Verde, Flora Zambesiaca, Flora of Tropical East Africa, Flore du Gabon, Flore du Cameroun e Flora of West Tropical Africa). Como palinologista, Paiva estabeleceu em Coimbra os estudos de aeropalinologia, trabalho premiado em colaboração com o Departamento de Pneumologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
Paiva tem feito parte de grupos nacionais e internacionais de investigadores que estudam e recolhem material vegetal, não só na Península Ibérica, mas também em África, Ásia e América. Destas, destaca-se a longa expedição a Moçambique com António da Rocha Torre em 1963-64; também, as muitas expedições a São Tomé e Príncipe, sobretudo depois de se reformar. Em 2016 foi o guia naturalista numa série de quatro documentários em África "No Trilho dos Naturalistas" para televisão sobre as missões botânicas realizadas em Angola, Moçambique e São Tomé nos séculos XIX e XX pelos botânicos da Universidade de Coimbra.
Como taxonomista de plantas, viajou pela Europa, principalmente pela Península Ibérica, pelas ilhas da Macaronésia, por África, pela América do Sul, pela Ásia e pela Austrália. Esta experiência global impulsionou o seu trabalho como ambientalista, com inúmeras aparições nos media em apoio da biodiversidade; as suas excelentes capacidades de comunicação fizeram dele um excelente educador em conservação e proteção ambiental nas escolas de todo o país. Esta atividade cívica em defesa da natureza já lhe valeu vários prémios por parte de organizações de conservação e em 2023 foi-lhe atribuída a Medalha de Ouro da cidade de Coimbra.
Jorge Paiva viu mais de quinhentos trabalhos publicados em taxonomia vegetal, palinologia e ambiente. Mais recentemente, a sua investigação voltou-se para os clássicos, e foi coautor, com colegas da Faculdade de Artes, das obras de Teofrasto (2020) e o célebre poeta português Camões (2024).
Paiva é homenageado em dez nomes de plantas e pela sua atividade científica recebeu também muitos prémios, entre outros, da Universidade de Coimbra (2013, 2014) e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (2021). É membro honorário da Sociedade Broteriana e de outras sociedades científicas.