[Artigo publicado] Metacognition and Cognitive Flexibility in Autistic and Neurotypically-Developing Populations

Um novo estudo do nosso laboratório oferece uma nova perspetiva sobre a metacognição em indivíduos com Perturbação do Espectro do Autismo (PEA). Indivíduos com PEA podem demonstrar uma metacognição superior em tarefas que envolvem cognição visuoespacial. A flexibilidade cognitiva, por sua vez, parece não ser prejudicada por défices metacognitivos, mas sim por um excesso de confiança nas próprias decisões, tanto em indivíduos com desenvolvimento neurotípico (DN) como em indivíduos com PEA.

Maria Luiza Weise
11 julho, 2025≈ 4 mins de leitura

No passado dia 3 de julho, a revista científica Brain and Behavior publicou o artigo “Metacognition and Cognitive Flexibility in Autistic and Neurotypically-Developing Populations”, coautorado por Mikhail Ordin e Leona Polyanskaya, investigadores do Laboratório LMD.

Neste estudo, os investigadores analisam a relação entre metacognição e flexibilidade cognitiva em indivíduos com PEA. A metacognição foi medida através de uma tarefa de rotação mental em 3D (domínio cognitivo visuoespacial), no qual se considera que indivíduos com PEA têm vantagem sobre os indivíduos DN.

Os participantes tinham de julgar se duas imagens em 3D representavam a mesma figura rodada (parecendo diferentes apenas devido ao ângulo de visualização) ou se eram, de facto, figuras diferentes. Em cada ensaio, os participantes tinham de indicar se estavam confiantes na sua resposta. Uma melhor metacognição manifesta-se por uma maior confiança nas respostas corretas e menor confiança nas erradas, refletindo o grau de consciência que as pessoas têm sobre a precisão dos seus julgamentos (a metacognição é a capacidade de autoavaliação).

A flexibilidade cognitiva foi avaliada através de um jogo de trocas comerciais com regras variáveis, no qual os jogadores tinham de vender bens a raças “alienígenas” e maximizar o lucro, apesar das flutuações nos preços oferecidos por diferentes raças para os mesmos bens. Os jogadores com maior flexibilidade cognitiva são mais sensíveis às mudanças e adaptam mais facilmente as suas estratégias comerciais a novas situações. Os investigadores procuraram perceber se o défice metacognitivo frequentemente assumido no autismo estaria ligado a uma menor flexibilidade cognitiva e, consequentemente, a uma capacidade limitada de adaptação comportamental.

Os resultados mostram que indivíduos com PEA podem demonstrar um discernimento metacognitivo superior em tarefas visuoespaciais, sugerindo que, em domínios específicos, pessoas autistas podem apresentar pontos fortes metacognitivos, desafiando assim a suposição de um défice metacognitivo generalizado na população com PEA.

Contudo, a flexibilidade cognitiva não se revelou relacionada com a capacidade de avaliação do próprio desempenho (ou seja, não foi observada qualquer ligação entre flexibilidade cognitiva e metacognição). Os dados demonstraram que uma menor flexibilidade cognitiva está associada ao excesso de confiança nas decisões. Este excesso de confiança não impede a aprendizagem das regras, mas, uma vez aprendidas, impede a sensibilidade às situações em que a estratégia anteriormente eficaz se torna abaixo do ideal. Reduzindo, assim, a capacidade de adaptação comportamental em ambientes em mudança. Esta tendência foi observada tanto em indivíduos com PEA como em indivíduos DN.

O artigo publicado está disponível aqui.

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