Yukio Mishima, pseudónimo de Kimitake Hiraoka, nasceu em Tóquio a 14 de janeiro de 1925, no seio de uma família de samurais. A sua vida foi assinalada por um profundo conflito entre tradição e modernidade, beleza e morte, espiritualidade e política.
Enquanto dramaturgo, romancista e ensaísta, foi reconhecido como um dos mais importantes escritores japoneses do século XX, tendo igualmente escrito diversos ensaios filosóficos e guiões para cinema. Desde cedo evidenciou grande talento para a escrita, começando aos 12 anos a escrever contos. Com 24 anos publicou o seu primeiro romance de sucesso, Confissões de uma Máscara (1949). A sua obra, de forte caráter autobiográfico, trata da repressão da identidade e do desejo, abordando temas como homossexualidade, alienação e estética da morte, elementos recorrentes nas suas obras literárias.
Mishima cultivava uma visão idealizada do Japão tradicional, particularmente dos valores samurais, que sentia ameaçados pela ocidentalização e pela decadência moral do pós-guerra. Esse fascínio reflete-se em obras como O Templo do Pavilhão Dourado (1956), baseada num caso real do incêndio do templo Kinkaku-ji, e na tetralogia "O Mar da Fertilidade" (1969–1971), considerada a sua obra-prima, composta pelos romances Neve de Primavera, Cavalo Selvagem, O Templo da Aurora e A Ruína do Anjo, algumas das obras que o levaram a ser nomeado por três vezes para o Prémio Nobel da Literatura.
Além da literatura, Mishima cultivava o corpo e a disciplina. Como verdadeiro samurai praticava musculação e esgrima com espada japonesa (kendo). Sofreu profundamente por se ter retirado das linhas da frente na 2ª. Guerra Mundial, por razões de saúde, o que o impediu de vir a ter o que mais desejava, uma morte heroica.
Em 1968 fundou uma milícia privada dedicada à preservação dos valores tradicionais japoneses e à lealdade ao imperador, a Tatenokai (Sociedade do Escudo). Em 25 de novembro de 1970, após a tentativa falhada de um golpe simbólico para restaurar o poder imperial, na qual foi acompanhado por quatro membros da Tatenokai, Mishima suicidou-se por seppuku (haraquíri). A ação, ocorrida dentro do Quartel General da Força de Auto-Defesa, em Tóquio, causou enorme perturbação, permanecendo até hoje como um dos momentos mais enigmáticos da história cultural japonesa.