Exposição CAMÕES 500
EXPOSIÇÃO PROLONGADA ATÉ 25 DE JULHO Quinhentos anos depois da data provável do seu nascimento (c. 1524/1525) e apesar de todas as mudanças que afetaram o mundo e a humanidade de então para cá, continua bem vivo o desejo de ver, ouvir e ler Camões. A exposição é constituída por quatro núcleos temáticos. Nos dias 25 de junho e 10 de julho realizam-se visitas guiadas para o público em geral.
Bioiconografia camoniana: revisitações
Bioiconografia camoniana: revisitações permite reconhecer, a partir de um corpus selecionado de gravuras e outras representações artísticas, o fascínio exercido por uma personalidade verdadeiramente singular. Sabe-se que é difícil reconstituir a vida de Camões a partir de uma base documental segura e que, muitas vezes, lendas e especulações preenchem os vazios do que não se conhece. Entre leituras mais certeiras e visões romanceadas, o certo é que a indeterminação biográfica tem contribuído, ao longo de séculos, para a formação de um longo lastro cultural que não é possível ignorar. Pretende-se, assim, dar a ver um Camões, a um tempo, imortal e angustiadamente humano num mundo de valores em transição.
I. Camões e Coimbra, «florida terra, leda, fresca e serena»
Vista de Coimbra nos finais do século XVI. Fonte: Illustris civitatis Conimbriae in Lusitania ad flumen Illundam effigies / [Georg Braun]; [Frans Hogenberg]. [Colónia]: [Georg Braun], [c. 1580]. UCBG NC-745
Pouco se sabe da vida de Camões que possa ser comprovado com informação documental segura, a começar pela data e pelo local de nascimento. Testemunhos dos primeiros biógrafos e alusões à cidade do Mondego espalhadas pela obra levam, contudo, a crer que aqui tenha passado vários anos da sua mocidade. É certo que não há registo de matrícula que ateste a frequência da universidade, mas podia tê-lo feito informalmente ou até colhido benefício de outras instituições ligadas ao ensino e à cultura como o Mosteiro de Santa Cruz. A Coimbra do século XVI, com a transferência definitiva da universidade e com o fulgor do humanismo renascentista, podia oferecer o ambiente intelectual capaz de moldar os interesses e modos de pensar do jovem Camões. Aqui poderia ele também ter vivido os seus primeiros amores e sentido fascínio por lembranças históricas espalhadas pela cidade e por lendas como a dos amores de Pedro e Inês. Uma coisa é certa: Coimbra e os campos do Mondego ficarão para sempre associados à memória de um tempo de suave encanto.
II. Camões e a «fúria rara de Marte»
Sem experiência efetiva de combate em terra e no mar, provavelmente Camões não conseguiria evocar com vida e sangue a experiência da guerra e suas consequências. Como tantos outros jovens de condição nobre, pode ter partido para Ceuta por volta de 1549 em virtude do serviço militar, mas há quem considere a hipótese de se tratar do cumprimento de um desterro. Por lá deve ter permanecido até aos primeiros anos da década seguinte, ansiando pelo regresso ao ambiente de culta galantaria da corte de D. João III que deixara para trás. Foi, aliás, nesse contexto marroquino que se deu a perda de um dos olhos que alterou para sempre a sua fisionomia, transformando-se num dos elementos mais icónicos da sua figura. Camões deambulou pelos confins do Império e participou em várias expedições militares no Oriente, onde passou dezassete anos. Pouco depois da chegada a Goa, toma parte numa expedição organizada pelo vice-rei D. Afonso de Noronha. Em 1554, está de novo envolvido numa expedição militar, desta feita à região do Mar Vermelho. A vida de Camões enquanto poeta-soldado, o que segura «nũa mão sempre a espada e noutra a pena», interessa ainda por uma outra razão: o ideal de conciliação das armas e das letras, que vinha desde a Antiguidade Clássica, ganhou no Renascimento um novo vigor.
Ilustração de André Carrilho
Fonte: Luís de Camões, a Global Poet for today. Edited by Helder Macedo and Thomas Earle. Illustrated by André Carrilho. Lisboa: Dilúvio, 2023. UCBG 9-(1)-8-44-26
III. Camões na prisão
Falar de Camões é falar de um homem que, desde cedo, andou envolvido em lutas, degredos, prisões e vida boémia. Talvez não se justifique exagerar a fama de espadachim e brigão, mas há algum fundo de verdade nesse modo de comportamento. Um dos poucos documentos da época em que se refere o nome de Camões é uma carta régia de perdão datada de março de 1553. Aí se relata o seu envolvimento numa encarniçada disputa, no dia do Corpo de Deus de 1552, acabando por ferir um funcionário do Paço. Esteve algum tempo na prisão do Tronco e foi depois solto e perdoado pelo ofendido. Embarcou, por fim, para a Índia em 1553, mas não terminaram os episódios de uma vida atribulada. Por motivos que não são conhecidos, mas provavelmente por causa de dívidas contraídas, esteve preso também em Goa, pelo menos uma vez. Este desenho, dado a conhecer por Maria Antonieta Soares de Azevedo em 1972, retrata o Poeta no cárcere, com acesso a livros e a material de escrita. Tem no verso uma legenda intrigante: “Luis de Camões prezo e tendo aos pés quem quis perdelo. Pintado nas Indias e foi do próprio”.
Camões na prisão, autor desconhecido. Desenho sobre pergaminho (século XVI). Fonte: reprodução em domínio público (Wikimedia).
IV. Camões na Índia, a «desejada e longa terra, de todo o pobre honrado sepultura»
O mercado na Rua Direita de Goa (c. 1580). Fonte: Itinerário, viagem ou navegação para as Índias Orientais ou Portuguesas de Jan Huygen van Linschoten (Edição de Arie Pos, Rui Manuel Loureiro). Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1997. UCBG RC-41-25
Durante o tempo que permaneceu no Oriente, entre 1553 e 1569, Camões passou por novos mares e novas terras, vivendo encontros e desencontros com novas gentes desde o estreito de Meca até à China. A sua permanência mais demorada deve ter sido em Goa, capital do império português do Oriente e complexo mosaico étnico-religioso, linguístico e cultural. E como reagiria o poeta a essas comunidades formadas por gentes e costumes, crenças e ritos tão diferentes dos que caraterizavam o espaço europeu da altura ou como olharia para uma paisagem física esplêndida em toda a sua grandeza? Surpresa, estímulo, desejo de conhecimento ou choque, por certo, perante essa experiência de contacto e convivência com a radical alteridade do mundo e do humano. Mas, como se pode perceber pelo conteúdo de uma carta (escrita algum tempo depois da sua chegada), Goa era também «mãe de vilões ruins e madrasta de homens honrados», ostentando sinais preocupantes do declínio do império.
V. Camões em Macau
Existem indícios fortes de que Camões desempenhou, por algum tempo (talvez durante a década de 60 do séc. XVI), a função de provedor-mor dos defuntos em Macau. Aí se encontra uma gruta que, segundo a lenda, teria funcionado como espaço de recolhimento e de trabalho do poeta e que guarda ainda hoje o seu nome. Embora não comprovada documentalmente, tal lenda reflete bem a importância de Camões para a identidade cultural daquele território e para a preservação da língua portuguesa no quadro das relações históricas entre Portugal e a China. Na tela do pintor Francisco Augusto Metrass, o poeta, tendo a pena na sua mão direita e a espada a seus pés, surge acompanhado pelo jau, um escravo oriundo da ilha de Java, mas é pouco provável que em Macau este já estivesse ao seu serviço.
Camões na gruta de Macau de Francisco Metrass, 1853. Fonte: Biblioteca Nacional de Portugal https://purl.pt/12227/2/
VI. O naufrágio na foz do rio Mekong
Na viagem de regresso a Goa, a embarcação em que seguia Camões naufragou no delta do rio Mekong, no atual Camboja. No naufrágio terá perdido tudo e terá também morrido uma companheira, que poderia corresponder a Dinamene nomeada em vários textos da lírica. O trágico episódio aparece mencionado n’ Os Lusíadas, quando se alude aos «cantos que, molhados,/Vêm do naufrágio triste e miserando,/ Dos procelosos baxos escapados» (X, 128) e deu origem a uma corrente de representações artísticas que mostram o poeta lutando com as ondas para salvar a vida e o manuscrito do poema épico.
Camões naufragado, ilustração de André Carrilho, 2018. Fonte: imagem cedida pelo autor.
VII. As mulheres em Camões
As mulheres ocupam, ainda que sob formas diversas, um lugar de destaque na obra camoniana. Camões sempre procurou fazer passar de si a imagem, sobretudo na lírica, de que sofreu as agruras da vida, mas ainda mais as do amor. A fantasia de alguns biógrafos levou a considerar hipóteses várias sobre as mulheres que o poeta teria amado, em especial uma de condição social superior, ora identificada com Catarina de Ataíde, ora com a Infanta D. Maria, mas sem fundamento documental. Há, porém, um facto indesmentível: Camões quis e soube cantar como poucos poetas da tradição ocidental uma série de figuras femininas de perfil muito distinto (Dinamene, Bárbara, Lianor, a Menina dos Olhos Verdes, Catarina, Violante, Francisca...). Soube utilizar os códigos (sobretudo, o petrarquista) que serviam para celebrar um certo cânone ocidental de beleza feminina, mas soube também ultrapassar e reconfigurar esse mesmo cânone, ao elogiar as qualidades da mulher não-europeia.
Ilustrações de Daniela Viçoso, Susana Monteiro, José Vargas Smith, Rita Mota, Jorge Marinho, Amanda Baeza and Miguel Rocha. Composição usada como cartaz da exposição Camões: a Legacy Reimagined, organizada no King’s College London em outubro de 2024, com curadoria de Alexandra Dias Lourenço. Fonte: Imagens cedidas pelo Camões Centre, King’s College London.
VIII. A permanência na Ilha de Moçambique
Representação da ilha de Moçambique (1596). Fonte: Itinerário, viagem ou navegação para as Índias Orientais ou Portuguesas de Jan Huygen van Linschoten (Edição de Arie Pos, Rui Manuel Loureiro). Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1997. UCBG RC-41-25
Por volta de 1567, Camões decide regressar ao Reino, mas demoraria algum tempo ainda até aí chegar. Vem da Índia para a Ilha de Moçambique, graças ao apoio de Pero Barreto Rolim, mas após um desentendimento entre ambos é abandonado à sua sorte. A «Ilha pequena [...] em toda esta terra certa escala/De todos os que as ondas navegamos» (Os Lusíadas, I, 54) era, na altura, uma escala necessária para as longas viagens marítimas que ligavam o Ocidente ao Oriente. Sobrevivendo dificilmente durante dois anos, em estado tão pobre que necessitava da generosidade dos amigos, compreende-se que não se sentisse muito deslumbrado pela paisagem natural e pela diversidade cultural. Um desses amigos, o cronista Diogo do Couto, refere que retocava por essa altura Os Lusíadas e que trabalhava num «livro mui douto, de muita erudição, que intitulou Parnaso de Luís de Camões, porque continha muita poesia, filosofia e outras ciências». Que destino teve esse famoso Parnaso não sabemos, porque o seu rasto se perdeu irremediavelmente, mas se um dia voltasse a aparecer teríamos talvez um Camões redivivo.
IX. Os últimos anos e a morte de Camões
Quando regressou a Lisboa, Camões encontrou uma cidade muito diferente da que deixara cerca de década e meia antes. No trono estava agora um jovem rei: D. Sebastião. Consagra tempo e dedicação à tarefa de impressão do seu poema épico. Como tantos outros milhares de portugueses seduzidos em algum momento das suas vidas pelo projeto ultramarino, não voltou rico. E, apesar de contar com uma tença de 15.000 réis, que lhe foi concedida por D. Sebastião em 1572, não devem ter sido fáceis os últimos anos de vida. Penúria financeira, doença e até desilusão pelo rumo que a Pátria vinha seguindo. Na litografia “Camões no leito de morte”, de 1861, o artista procura evocar os momentos finais da vida do poeta: velho e já muito debilitado, recebe a visita de um nobre, enquanto é ajudado por um homem que poderia corresponder, pela fisionomia, ao escravo que (segundo alguns) teria trazido do Oriente. Tudo leva a crer que Camões, o mesmo que tivera um dia a vida «pelo mundo em pedaços repartida», tenha morrido a 10 de junho de 1580, de acordo com um documento datado de 13 de novembro de 1582, numa pobre casa da Calçada de Santana.
Camões no leito de morte. Litografia de Cupertino, 1861. Fonte: Biblioteca Nacional de Portugal https://purl.pt/6771/3/
X. Um Camões de e para todos e todas
Ainda que tenha sido utilizado para fins diversos (literários, artísticos, sociais ou político-ideológicos) ao longo de muitas gerações, Camões é um poeta de e para todos e todas, independentemente da sua condição, cultura ou geografia. Para nossa felicidade, vivemos num tempo em que abordagens tradicionais e conservadoras da ideia de património e de cultura já não fazem sentido. É sempre estimulante considerar outras gramáticas de criação e compreender o alcance de Camões enquanto força modeladora do presente e do quotidiano. Iniciativas artísticas contemporâneas como a de Miguel Ram e Gonçalo Mar, grafiters da dupla ARM Collective, mostram como é sempre possível revisitar a obra camoniana (no sentido amplo do termo) e encontrar nela algum laço de afinidade com o que somos em cada momento, enquanto indivíduos ou comunidade. O mural com mais de 100 metros, representando Camões numa embarcação com o mar em fundo, foi pintado numa zona de Lisboa que não está muito distante do Tejo, esse mesmo que serviu de cenário à partida das naus. Por aqui se vê que cada encontro com Camões é sempre um acontecimento novo e gratificante, mesmo quinhentos anos depois.
Letras impressas
Letras impressas reúne obras pertencentes à Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra que atestam bem o alcance e a longevidade da atividade editorial desde a data da primeira publicação de Os Lusíadas (1572) até à atualidade. Esta mostra fez parte, inicialmente, da exposição que teve lugar na Biblioteca Joanina, no dia 10 de junho de 2024, por ocasião da abertura oficial das comemorações do V Centenário.
Lírica
Primeiras edições
RIMAS, 1598
PEDRO CRAESBEECK
A obra lírica de Camões foi editada pela primeira vez em 1595, quinze anos após a morte do poeta. A segunda versão, que agora se expõe, haveria de sair três anos depois. Na portada, anuncia-se que as Rimas vão “acrescentadas”. Uma busca no Reino e na Índia tinha permitido a inclusão de mais 65 poemas, e ainda três cartas em prosa.
RIMAS, 1607
DOMINGOS FERNANDES
Em 1607, vinte e sete anos depois da morte do poeta, vem a público a terceira edição das Rimas. Nela se declara que Camões foi “Filho de Coimbra, Discípulo e Amigo da Universidade”. A nota é da autoria de Domingos Fernandes, livreiro da mesma universidade.
Século XVII
RIMAS VARIAS, 1685
COMENTADA POR MANUEL DE FARIA E SOUSA
Manuel de Faria e Sousa (1590-1646) declara ter consagrado boa parte da sua vida ao estudo das obras de Camões, que considerava ser o “Principe dos poetas das Espanhas”. Comentou e publicou Os Lusíadas (Madrid, 1639). Trabalhou também nos comentários às Rimas Varias. Só após a sua morte, a edição viria a público por intervenção de seu filho, Pedro de Faria e Sousa. Em Vila Viçosa, na Biblioteca do Paço Ducal, encontra se uma boa parte dos manuscritos que serviram de base aos comentários feitos por Faria e Sousa. Foram adquiridos por D. Manuel II, último Rei de Portugal.
RIMAS VARIAS, 1689
COMENTADA POR MANUEL DE FARIA E SOUSA
Séculos XX e XXI
EDIÇÕES DE COSTA PIMPÃO, HERNÂNI CIDADE E MARIA VITALINA LEAL DE MATOS
Desde 1595 até aos nossos dias, têm se feito muitos esforços no sentido de esclarecer dúvidas de autoria e de fixação da lírica camoniana. As edições mais prestigiadas contêm cerca de três centenas e meia de textos. De entre as mais fiáveis, destacam-se as que foram preparadas por Álvaro Júlio da Costa Pimpão (Coimbra, 1953), Hernâni Cidade (Lisboa, 1973) e Maria Vitalina Leal de Matos (Lisboa, 2019).
Épica
Edições Comentadas
OS LUSÍADAS, 1639
EDIÇÃO DE MANUEL DE FARIA E SOUSA
Sobre Faria e Sousa, afirmou o grande escritor e homem de Letras espanhol que foi Lope de Vega: «assi como Luiz de Camoens es príncipe de los poetas que escrivieron en idioma vulgar, lo es Manuel Faria de los commentadores en todas lenguas». Os seus comentários à epopeia de Camões são invulgarmente desenvolvidos, revelam uma cultura excecional e vêm sendo de consulta obrigatória para os camonistas de todas as gerações.
Edições «Monumentais»
OS LUSÍADAS, 1817
MORGADO DE MATEUS
Em 1817 sai, em Paris, uma luxuosa edição preparada por Dom José Maria de Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos, quinto Morgado de Mateus. Trata-se de um empreendimento extraordinário para a época. O editor tinha estudado em Coimbra, antes de ter desempenhado cargos militares e diplomáticos. O cuidado que colocou na comparação dos poucos exemplares da primeira edição a que teve acesso (direto ou indireto), a reputação dos desenhadores e a qualidade dos materiais revelam o enorme empenho que colocou na iniciativa.
OS LUSÍADAS, 1898
EDIÇÃO AUTOGRÁFICA DO MAJOR FERNANDES COSTA
Em 1898, para assinalar os quatrocentos anos da chegada de Vasco da Gama à Índia, o Major Fernandes Costa teve uma ideia singular. Solicitou a figuras importantes do Reino que escrevessem, por sua mão, uma estância d’ Os Lusíadas. Conseguiu assim reunir contributos de escritores, atores, ministros, dignitários da Igreja, aristocratas, etc. A curiosa edição “autográfica” reúne 1102 autógrafos diferentes. A primeira estância foi escrita pelo punho do Rei D. Carlos. Seguem-se outras, caligrafadas por Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, o Cardeal-Patriarca de Lisboa, entre muitas f iguras da elite nacional.
Edições Escolares
OS LUSÍADAS, 1952
EDIÇÃO DE ANTÓNIO JOSÉ SARAIVA
Sendo responsável por inovadores estudos sobre Camões, António José Saraiva (1917 1993) haveria também de preparar uma edição d’ Os Lusíadas para uso escolar. Saída a lume, pela primeira vez, em 1978, viria a ser reeditada até aos nossos dias. Trata-se de um trabalho particularmente admirado não apenas pela criteriosa fixação do texto, mas também pela segurança do estudo introdutório e das anotações.
OS LUSÍADAS, 1978
EDIÇÃO DE EMANUEL PAULO RAMOS
Publicada em 1952, a edição do madeirense Emanuel Paulo Ramos (1922–2005) haveria de ser reeditada muitas vezes. Sucessivas gerações de portugueses haveriam de estudar Os Lusíadas por esse volume: primeiro no 5º ano dos Liceus e, mais recentemente, nos 9.º e 10.º anos de escolaridade.
Luís de Camões: 1572–2024
OS LUSÍADAS, 1572
Os Lusíadas são a primeira epopeia impressa em língua portuguesa. A publicação responde a constantes apelos para que os feitos dos portugueses fossem enaltecidos e transformados em canto supremo. O parecer do censor do Santo Ofício (o dominicano Frei Bartolomeu Ferreira) contribuiu para o prestígio alcançado: “O autor mostra muito engenho e muita erudição nas ciências humanas”.
OS LUSÍADAS, 2022
RITA MARNOTO
Impresso em Genève (Centre d’Études Portugaises), o presente exemplar d’ Os Lusíadas constitui a mais recente proposta de uma edição crítica da epopeia camoniana. Foi preparado por Rita Marnoto e integra-se num amplo projeto, que abrange a publicação da obra completa de Camões. Para a realização deste trabalho, a investigadora estudou 39 exemplares com data de 1572, concluindo pela existência de duas edições distintas (sendo uma delas “contrafeita”).
OS LUSÍADAS, COMO NUNCA OS OUVIU, 2016
DITOS POR ANTÓNIO FONSECA
As epopeias possuem uma forte base oral. Essa dimensão antecede a escrita e está para além dela. O empreendimento do ator António Fonseca procura reconstruir a voz de Camões, transportando Os Lusíadas da nossa vista para os nossos ouvidos. O presente Audiolivro incorpora múltiplas vozes do mundo lusófono. O poema é dito por António Fonseca e vozes de Timor, Boston, Cabo Verde, Guiné, Moçambique, Angola, Goa, Macau, S. Tomé e Príncipe e Brasil.
CAMÕES – UMA ANTOLOGIA, 2024
FREDERICO LOURENÇO
Camões: Uma Antologia contém uma seleção comentada de poemas centrais da obra lírica de Camões, juntamente com uma amostra abrangente de estâncias do poema épico Os Lusíadas. O comentário procura lançar um olhar novo sobre o modo muitas vezes surpreendente com que o poeta usa os modelos clássicos, conciliando crítica textual e literária.
Camões e os jovens leitores: o passado de risonhos futuros
Camões e os jovens leitores: o passado de risonhos futuros considera várias propostas que integram o amplo movimento editorial de divulgação e disponibilização de textos camonianos a leitores em idade infantil e juvenil ou que elegem Camões como personagem. Ao longo de quase um século (considerando a data da obra mais antiga em exposição), autores, artistas e ilustradores procuraram, por vias muito diversas, criar pontos de acesso e de mediação face a um conteúdo literário e cultural tornado mais exigente com o passar do tempo.
Camões, uno e múltiplo: recriações digitais
Camões, uno e múltiplo: recriações digitais abre espaço para uma problematização sobre outros modos de fruir e reinventar o legado de um dos maiores nomes da literatura mundial, projetando-o para o futuro.
Rui Torres
Diálogos entre Camões e Dinamene (2025) é uma obra de Rui Torres que se baseia no soneto “Alma minha gentil, que te partiste” de Camões, em diálogo com uma versão alternativa de Manuel Portela, narrada do ponto de vista da alma que partiu. Através de um sistema de variações, cada soneto pode ser gerado em inúmeras combinações únicas, permitindo que os leitores criem as suas próprias versões do texto. O projeto inclui a publicação de um livro com 500 sonetos selecionados por estudantes do ensino secundário, proporcionando uma experiência participativa que amplia as possibilidades de leitura e interpretação do poema original. https://telepoesis.net/camoes_500/
Como previsto, a publicação «Diálogos entre Camões e Dinamene: 500 sonetos selecionados a partir de um infinito poético de almas partidas» reúne sonetos selecionados por estudantes do ensino secundário de várias escolas do país, que foram convidados a escolher, alterar e justificar as variações com base no seu entendimento poético e sensibilidade literária. Para esta edição participaram estudantes e docentes da Escola Secundária João Gonçalves Zarco, Matosinhos (coord. Ana Isabel Moura e Carla Baptista), Escola Básica e Secundária da Quinta das Flores, Coimbra (coord. Júlia Gomes), Escola Secundária Nuno Álvares, Castelo Branco (coord. Rui Mateus), Escola Secundária Cristina Torres, Figueira da Foz (coord. Silvéria R. Palrilha), Colégio Ribadouro (coord. Fátima Leal) e Colégio da Trofa – Grupo Ribadouro (coord. Cláudia Eira).
Luís Lucas Pereira
Máquina do Mundo – Edição Revista e Baralhada (2025) é um projeto de literatura eletrónica desenvolvido em tecnologia web a partir da obra Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões. Brincando com as ideias de determinismo e criação emergente, este trabalho apresenta no ecrã uma nova instância textual, composta por versos recombinados que respeitam a estrutura métrica e rítmica original (ABABABCC). Os leitores podem interagir com este objeto, alterando os conjuntos de rima e explorando múltiplas possibilidades de reconstrução poética. O título evoca o episódio do Canto X, estância 80, em que Tétis revela a Vasco da Gama a “Máquina do Mundo”, simbolizando a ordem cósmica e o desígnio divino. Esta proposta revisita esses conceitos ao criar um espaço híbrido em que a previsibilidade estrutural coexiste com a criatividade do utilizador, desafiando interpretações sobre providencialismo, acaso e a natureza do texto literário na era digital. https://humaginarium.net/maquinadomundo/
André Vallias
Tão pequeno (2006, videopoema). No segundo semestre de 1941, Stefan Zweig, vivendo então em Petrópolis, traduziu para o alemão a estrofe 106 do Canto I d’Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões. Mandou imprimir sua tradução e a enviou como cartão de final de ano a seus amigos no exílio. Morreria alguns meses depois... 64 anos depois, Caetano Veloso, sem conhecer o gesto do escritor judeu-austríaco, escolheu os 4 versos finais da mesma estrofe para compor uma das canções que integram a trilha sonora do espetáculo “Onqotô”, do grupo Corpo, realizada com Zé Miguel Wisnik. André Vallias fez a videoanimação em 2006, com fragmentos de “O Cinema Falado”, para publicação na revista Errática. A canção foi interpretada por Greice Carvalho.
Cartão de Stefan Zweig, 1941. Coleção de Pedro Corrêa do Lago.
Folha de Sala
Ficha técnica
Curadores
Paulo da Silva Pereira
Filipa Araújo
Produção
Maria Luisa Sousa Machado
José Amado Mateus
Design
Atelier d’Alves
Agradecimentos
Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca Nacional de Portugal, Camões Centre-King’s College London.
Alexandra Dias Lourenço, André Carrilho, André Vallias, José Augusto Cardoso Bernardes, Luís Lucas Pereira, Pedro Corrêa do Lago, Rui Torres.
Atividades
Condições de Acesso
Público em geral
Horário de abertura da exposição para o público em geral: segunda a sexta-feira, 14h00–17h00. Aos feriados e nos dias 28 e 30 de maio está encerrada. Não serão admitidos grupos com mais de 25 pessoas.
Visitas Guiadas
A marcação de visitas guiadas destina-se apenas a grupos escolares (do pré-escolar ao ensino secundário) e é obrigatória.
Contactos
Este trabalho é financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto UIDP/00150/2020.