Projeto Joanina Digital: Proveniências — Família Torriani

A disseminação do Projeto Joanina Digital tem como objetivo informar a comunidade académica e científica sobre o desenvolvimento e a variedade de informação biblioteconómica disponibilizada para melhor conhecimento do fundo patrimonial que se encontra no piso nobre da Biblioteca Joanina.

MB
Manuela Galvão e Fátima Bogalho
21 setembro, 2025≈ 2 mins de leitura

No âmbito das Jornadas Europeias do Património 2025, dedicadas ao Património Arquitetónico, é precisamente uma obra de arquitetura que se encontra em destaque. Este exemplo serve, porém, como mote para abordar as proveniências, que têm vindo a enriquecer a base de dados do SIIB/UC (Sistema Integrado das Bibliotecas da Universidade de Coimbra), com a conclusão do tratamento técnico deste conjunto de obras do fundo patrimonial.

As proveniências ou marcas de posse, informações de propriedade, são inscrições de anteriores possuidores que se revestem de particular importância quando o exemplar pertenceu a uma personalidade conhecida. Os testemunhos de posse podem encontrar-se em pertences manuscritos, assinaturas autógrafas, ex-libris e super-libros, todos fundamentais na recuperação de informação biblioteconómica, ou seja, fontes de informação convertidos em rubricas uniformes que reúnem as proveniências.

Durante o tratamento técnico do piso nobre da Biblioteca Joanina, iniciado em agosto de 2024, foram identificadas duas novas edições do século XVII: L'architettura de Andrea Palladio (edição veneziana, 1642) e Problema Austriacum plus ultra quadratura circuli de Grégoire de de Saint-Vincent (edição belga, 1647), que possuem a assinatura autógrafa de Frei João Torriani, testemunho “vivo” do seu antigo possuidor.

Frei João Torriani (1611-1679) foi um religioso beneditino e arquiteto, engenheiro-mor no reino português. Filho de Leonardo Torriani (1559?-1628), a quem sucedeu, e irmão de Diogo Torriano, da Aula de Risco do Paço da Ribeira, Lisboa. João Torriani foi convidado por D. João IV para projetar o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, Coimbra, por ordem Régia de 19 de junho de 1649. Durante alguns anos projetou diversas casas religiosas, chegando também a lecionar a cadeira de Matemática na Universidade de Coimbra.

A recuperação das marcas de posse, pertences manuscritos de João Torriani vêm permitir reunir as obras que fizeram parte da sua biblioteca particular, tornando-se num elemento diferenciador e identificador de outros exemplares que possam existir noutras bibliotecas nacionais e internacionais. Neste momento, estão identificadas obras que pertenceram à biblioteca particular da família Torriani, contribuindo para conhecimento das obras que circulavam em Portugal, à época, na área de arquitetura: Leonardo Torriani (3), João Torriani (7) e obra com assinatura autógrafa de ambos (1).

O conjunto documental que se encontra no SIIB/UC identificado como pertença dos arquitetos Leonardo Torriano e João Torriano reúne obras de arquitetura, geometria e astronomia publicadas em Itália, Bélgica e Espanha entre os anos de 1528 a 1651.

Frei João Turriano é o segundo filho do segundo casamento do cremonense Leonardo com uma portuguesa. Segundo alguns historiadores, inicia os seus estudos continuados na Aula do Risco, onde o pai lecionava Engenharia e Fortificação. Em 1629, professou na Ordem de São Bento, no Mosteiro da Saúde. Após treze anos de serviços prestados à coroa, por exemplo nas obras do mosteiro de Santa Clara, troca a arquitetura pela docência da Cadeira de Matemática na Universidade de Coimbra. Ao falecer, a 9 de fevereiro de 1679, a sua biblioteca, composta por exemplares que adquiriu em vida e de outros que herdou do pai, ficou na Livraria do Colégio de São Bento de Coimbra. A sua vinda para as coleções universitárias, dá-se só depois da extinção da Ordem, em 1834, e transferência desta Livraria

Recorda-se que no fundo patrimonial manuscrito da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra existe um rico e bem conhecido manuscrito original de Leonardo Torriani com 66 desenhos aguarelados, mapas, paisagens, plantas e desenhos de fortalezas, muralhas e baluartes, disponível na Almamater, Biblioteca Digital de Fundo Antigo da Universidade de Coimbra (https://am.uc.pt/item/46770).

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