Terra Longe de Júlia Vilhena, 2025 | Prática como Investigação
A videoperformance “Terra Longe”, da artista e investigadora Júlia Vilhena, foi apresentada a 21 de abril de 2025, no Teatro Académico de Gil Vicente, no âmbito do festival Abril Dança Coimbra. A peça, desenvolvida no contexto de doutoramento em Estudos Artísticos pela Universidade de Coimbra, propõe uma reflexão sobre as experiências migrantes, numa composição híbrida e polifónica.
Terra Longe é uma criação inserida na investigação de doutoramento em Estudos Artísticos de Júlia Vilhena, pela Universidade de Coimbra. O trabalho examina os modos como a deslocação pode constituir-se como forma de afeto, estética e política no cinema contemporâneo, adotando uma perspetiva transcultural e feminista sobre as figuras do migrante, do estrangeiro e do refugiado enquanto entidades interligadas. A peça assume uma forma híbrida entre vídeo, dança, performance e composição sonora, dando origem a uma narrativa polifónica.
O espetáculo contou com direção artística e realização de Júlia Vilhena, coreografia e performance de Bárbara Faustino, leitura ao vivo de um texto original de Aida Gomes, composição musical e sonoplastia de André David, bem como textos de Aida Gomes, Bárbara Faustino, Lidiane Andrade e Júlia Vilhena. O evento teve o apoio do LIPA e do TAGV.
A peça foi estruturada em torno de um dispositivo epistolar: cartas escritas por três mulheres migrantes — Aida (Huambo, Angola), Bárbara (São Paulo, Brasil) e Lidiane (Minas Gerais, Brasil) — nas quais partilham as suas viagens, perdas, desejos, afetos e processos de autotransformação. As vozes destas mulheres confluem num complexo de deslocação e reterritorialização, em que o luto, a família, o sentimento de pertença e a relação entre memória e lugar emergem como fios condutores fundamentais. A articulação criou um espaço e um tempo expandido, onde passado, presente e futuro se entrelaçam com as origens e os destinos.
O evento culminou numa discussão aberta com o público, num momento de partilha de histórias sobre identidade, migração e deslocação, com especial incidência nos contextos angolano e brasileiro. Esta conversa alargou o horizonte contemplativo da obra e reafirmou o papel da criação artística como meio de investigação, escuta e transformação.
Ao estabelecer a arte como um espaço de encontro entre corpos, narrativas e territórios, Terra Longe afirma a prática artística como meio de conhecimento e intervenção crítica, contribuindo para uma investigação académica que escuta, documenta e reimagina as vivências de um mundo em constante movimento.