Montagem de Material de Herbário |
![]() | Importância A manutenção e ampliação dos herbários constituem uma preocupação crescente face ao aumento dramático de espécies vegetais ameaçadas a nível mundial. Constituindo valiosas bases de dados, os herbários são primordiais não apenas em estudos taxonómicos, mas também em investigação molecular, estudos de biodiversidade e conservação. |
Montagem
A montagem consiste num processo de fixação de plantas secas e prensadas e de sua etiqueta numa cartolina de herbário. Este processo providencia um suporte físico que permite o manuseamento e inclusão do espécime causando-lhe o mínimo de danos.
Um exemplar bem montado deverá possuir qualidades botânicas, isto é, permitir a observação do máximo de características diagnósticas e ter longa durabilidade. Deverá ainda possuir qualidades artísticas, isto é, ser apresentado de forma equilibrada, agradável e estética.
Material
• Folhas de cartolina 45x27.5 cm, de cor clara
(1 por exemplar de herbário)
• Camisas: papel vegetal 45X55 cm dobrada ao meio
(1 por exemplar de herbário)
• Papel branco normal A4 para as etiquetas
• Cola branca de madeira – Goma-resina de polymer acryl vinil (Vulcano V7)
• Papel cavalinho branco para cápsulas (pequenos envelopes de papel)
• Papel mata-borrão ou material equivalente
• Pisa-papéis
• Pincéis
• Pinças e agulhas
• Agulhas de costura e linha castanha (Nylon soft; TKT40; COL.U2203)
• Esponja (28 x 45 cm; 10 mm de espessura)
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Método
Após devidamente colhido e prensado, o material vegetal deve ser montado de acordo com os seguintes princípios:
Disposição
A grossura da cartolina utilizada deve variar de acordo com o peso da planta. Plantas mais pesadas requererão folhas mais grossas.
1. O material vegetal, a cápsula e a etiqueta são colocados na folha de cartolina e as suas posições são estudadas antes de serem colados. Pode-se demarcar a lápis alguns pontos de orientação para a colagem posterior. O tamanho da cápsula escolhida depende da quantidade de material que nela se colocar.
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2. A disposição do espécime na cartolina depende muito da forma como foi seco. No entanto, devemos ter em atenção:
• deixar cerca de 0,5 cm da margem, de modo a, no futuro, poder manusear a cartolina sem danificar o exemplar;
• dispor o espécime com a mesma disposição aquando vivo, por exemplo, as raízes para baixo e as flores para cima;
![]() A maioria das vezes, a melhor solução é colocar os espécimes na diagonal. |
colocar o espécime da forma que melhor evidencie as suas características (flores, frutos, ambas as faces da folha, etc.), isto é, facilitar a observação de todos os caracteres que possam ajudar na identificação da planta;
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• a parte mais pesada do exemplar deve ficar em baixo, para evitar a dobragem da cartolina quando manuseada;
• exemplares volumosos não devem ficar do lado esquerdo, pois seriam esmagados pela capa de género;
• se alguma parte do material não fica incluída na cartolina, deve ser cortada (corte diagonal) a alguma distância da margem e os cortes colocados na cápsula.
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3. Em primeiro lugar, deve ser colada a etiqueta devidamente preenchida com a ajuda de um pincel, no canto inferior direito, a cerca de 0,5 cm da margem da cartolina e deixada a secar.
![]() Se a planta for muito grande, pode colar-se a etiqueta no fim da montagem ou colar apenas parte dela. |
4. O excesso de material ou pequenas partes extraídas deste são guardadas para serem posteriormente colocadas na cápsula.
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5. Colar a cápsula no canto superior esquerdo, ficando esta, numa posição oposta à etiqueta de forma a equilibrar os pesos na cartolina.
![]() Esta forma de dobragem impede a perda do material pelos cantos da cápsula. |
Colagem do espécime
1. Antes de proceder à colagem do espécime, limpar com ajuda de um pincel, as eventuais sujidades que possam ainda existir na planta, principalmente ao nível da raiz.
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2. Colocar água e cola numa superfície lisa e misturar de forma a obter uma consistência adequada. Espécimes mais robustos requerem uma cola mais espessa.
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. Existem dois métodos de colagem de exemplares. O método deve ser escolhido consoante a quantidade de material disponível:
• se o material para montagem for insuficiente para colocar algum na cápsula, deve-se optar por colar e coser o espécime apenas em pontos estratégicos, ficando algumas partes soltas e de forma a permitir que no futuro se possa retirar material para pesquisa do exemplar montado.
• se o material para montagem for abundante e, portanto, este for suficiente para incluir algum na cápsula, deve-se optar por colar a totalidade da superfície do espécime na cartolina, já que este procedimento aumenta a sua durabilidade. No caso ilustrado, existe material em abundância para colocar na cápsula.
4. Sobre papel de jornal, virar o espécime e espalhar a cola, com ajuda de pincéis de vários tamanhos.
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5. Com ajuda de um pedaço de papel dobrado ou cotonete de papel, retirar o excesso de cola.
6. Colocar a planta sobre a cartolina e comprimir. Nesta fase, corre-se o risco de a cola extravasar, ficando esta visível. É necessário absorvê-la com a ajuda de papel mata-borrão ou material equivalente.
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7. Quando a cápsula estiver seca, colocar no seu interior o material em excesso ou as partes extraídas da planta guardadas anteriormente.
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8. Depois de se certificar que não existem vestígios de cola, deixar esta secar colocando pesos sobre os exemplares permitindo a maior aderência do espécime à cartolina. Para tal, utilizar vários materiais para fazer peso. Manter durante um ou dois dias.
![]() Para fazer peso, aconselha-se a utilização de um saco de plástico com areão. As pequenas pedras ir-se-ão adaptar às formas do exemplar, evitando distorção da cartolina enquanto a cola seca. |
Finalização
1. Utilizando uma esponja como base de protecção, proceder à costura do espécime em pontos estratégicos, de forma a aumentar a sua fixação.
2. Com a agulha de costura, perfurar previamente a cartolina para orientação da costura. Coser com linha castanha, dando apenas uma volta e três nós por trás da cartolina.
![]() A agulha deverá ser inserida na diagonal, de forma a aumentar a força de fixação da linha e evitando rasgar a cartolina. |
3. Tapar e fixar os nós da costura colando pequenos quadrados de papel na face inferior da cartolina.
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4. Nesta fase poderá ser necessário dar alguns retoques de cola em zonas que possam ter ficado soltas. Para isso, recorrer ao bisturi ou pincel fino e agulha ou pinça fina.
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5. Para protecção, o exemplar deve ser colocado no interior de uma camisa branca dobrada.
6. O material está pronto para ser incluído.
• Todos os exemplares da mesma espécie são colocados dentro de uma cartolina branca de espécie.
• Todas as espécies do mesmo género devem ser colocadas numa capa castanha de género de cartolina.
• As famílias podem ser ordenadas alfabeticamente ou com base numa classificação taxonómica. Dentro de cada família, os géneros e as espécies podem ser também ordenados por ordem alfabética.
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Etiqueta
Sem a etiqueta o exemplar de herbário não tem utilidade. A etiqueta deve ser o mais completa possível e conter a informação sobre o espécime retirada do livro de campo e notas adicionais relacionadas com a identificação da planta.
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A etiqueta deve conter a seguinte informação:
Nome científico do espécime. Género, espécie, informação intraspecífica e nome do autor do taxon.
Determinador e data de determinação. O nome da pessoa que identificou a planta e quando o fez.
Localização. O mais detalhada possível, contendo informações específicas de como encontrar a localização exacta do ponto de colheita. Deve incluir o país, província, localidade, distância da cidade mais próxima, proximidade de rios e estradas. A informação providenciada por um GPS - latitude, longitude - é um complemento desejável para uma boa descrição da localização de colheita do espécime.
Habitat e ecologia. Trata-se de uma informação muito útil que inclui uma descrição generalizada do tipo de habitat (floresta, pradaria, pântano, prado, cervunal, etc.) e do tipo de substrato (calcário, xistoso, granítico). Compreende também o nome de outras espécies que se encontram no local de colheita e notas sobre o microhabitat (em solo exposto, no tronco de determinada espécie, etc.). Deve também referir a abundância relativa da planta colhida (sistema DAFOR: dominante, abundante, frequente, ocasional, rara).
Descrição. Refere-se a características da planta que podem perder-se durante a colheita e secagem, como a cor da flor e fruto, aromas, orientação da folha, textura, mucilagens, altura/comprimento. Hábito com referência a árvore, arbusto, trepadeira, erva perene, bienal ou anual também deve ser incluído. No caso de a planta não ser colhida na totalidade deve ser referida a dimensão total, no caso de árvores a altura e o diâmetro à altura do peito do colector devem ser referidos.
Nome do colector. O nome das pessoas que acompanharam o colector pode ser incluído entre parêntesis.
Número de colector. Número associado à planta aquando a sua colheita e que consta no livro de colheita.
Data de colheita. É aconselhado utilizar um formato que possui o nome do mês em numeração romana e o ano com 4 dígitos de forma a evitar confusões: 12 ii 2007 e não 12/02/07.
Conservação
Um bom exemplar de herbário deve durar centenas de anos. Para isso deve
garantir-se:
• O material de montagem utilizado não deve ter pH ácido
A cartolina de montagem, a cápsula, a etiqueta e a cola devem ter pH neutro de modo a retardar a deterioração dos materiais.
• Manuseamento cuidadoso
Um exemplar de herbário não deve ser invertido, deve ser sempre mantido na horizontal quando o manuseado. Uma capa de espécie não é um livro pelo que não deve ser manejado como tal!
• Temperatura e humidade
Em locais de humidade elevada, aconselha-se o uso de desumidificadores. As condições ideais para a conservação do papel são temperaturas entre os 20-23 ºC e humidade de 55%. As plantas secas conservam-se melhor em locais com níveis de humidade inferiores a este, para reduzir o risco de ataque de fungos e o estabelecimento de colónias de insectos. Desta forma, o ideal é manter o herbário a temperaturas entre os 20-23ºC e humidade entre os 40-55%.
• Protecção contra ataque de insectos
A preservação, a longo prazo, dos espécimes de um herbário depende principalmente de uma vigilância constante para detecção da presença de insectos. Infelizmente, são vários os insectos que apreciam e devoram plantas secas, tornando-se, por isso, um dos principais inimigos dos herbários. Podem ter sua origem nas próprias plantas quando colhidas, sobrevivendo ao processo de secagem ou sob a forma de ovos. Podem também existir nos armários onde os exemplares são armazenados. Há algumas décadas, a protecção consistia na utilização de bolas de naftalina colocadas nos armários. Nos anos 80 foram reconhecidos os danos na saúde causados pela naftalina. Em alguns herbários, utilizava-se uma solução alcoólica de cloreto de mercúrio, cujos efeitos nefastos também não eram conhecidos. Hoje em dia, estes exemplares possuem um selo vermelho “venenoso” indicando a existência de resíduos de mercúrio.
Uma das mais recentes técnicas de controlo de insectos em herbários é através da congelação. Os novos espécimes a serem incluídos no herbário são previamente congelados durante uma ou duas semanas a -30˚C (descontaminação). Se o congelador não atingir tal temperatura e tendo em consideração que os ovos de algumas espécies de insectos sobrevivem aos -18˚C, deve-se proceder a uma dupla congelação – após uma congelação inicial a -18˚C, colocar os espécimes a temperatura ambiente durante alguns dias e congelar de novo a -18˚C.
As colecções são periodicamente colocadas no congelador num sistema rotativo. Paralelamente, a temperatura do herbário é mantida a cerca de 20˚C Em vários herbários, estes dois métodos conjugados – sistema rotativo de congelação e controlo da temperatura – demonstraram ser muito eficientes. No entanto, este método é eficaz para erradicar as pragas existentes nos exemplares, mas não tem efeito sobre as colónias que podem estar instaladas nos armários! Desta forma aconselha-se conjugar os dois métodos anteriormente referidos com uma periódica intervenção química no herbário. O ideal é que os armários sejam metálicos e herméticos com portas com borracha e fechadas com íman, semelhante a um frigorífico.