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Abril 2000

Três planetas dançam um bailado celestial no horizonte oeste, preparando-se para desaparecer, ofuscados pelo Sol

Marte, Júpiter e Saturno - os três planetas que nos têm acompanhado no princípio da noite - preparam-se para desaparecer no horizonte avermelhado do crepúsculo. Os três astros aparecem cada dia mais perto do Sol e continuam a aproximar-se uns dos outros. Durante este mês, vê-los-emos trocar de posições: Júpiter, que se encontra entre Saturno e Marte, passará para o meio dos seus companheiros e tomará a dianteira na corrida para alcançar o Sol.

Se ainda não reparou nestes três planetas, é agora a altura para o fazer. Logo que a noite caia, olhe para o horizonte oeste, de preferência numa zona desobstruída. Verá aí três pontos luminosos alinhados numa diagonal. Um deles, o mais brilhante, é Júpiter, o planeta que tem sido, desde há alguns meses, o ponto de luz mais brilhante do céu. Acima deste planeta e um pouco à sua esquerda, à distância de seis graus, o equivalente à largura de três dedos vistos com o braço estendido, aparece um outro ponto de luz. Trata-se de Saturno que, apesar de não poder competir em brilho com o planeta gigante, contrasta com as estrelas pouco luminosas dessa área do céu. Abaixo de Júpiter, um pouco à sua direita, aparece um ponto de luz menos brilhante do que Saturno. Trata-se de Marte, que se distingue pela sua luminosidade pálida e fixa, de coloração avermelhada.

Daqui a menos de uma semana, veremos Júpiter ultrapassar Marte. Nessa altura, os dois satélites do Sol vão aparecer lado a lado, a uma distância angular de cerca de um grau, menos do que a largura do dedo mindinho visto no braço estendido. Na semana seguinte, será a vez de Saturno se aproximar de Marte, que irá ultrapassar no dia 15.

As aproximações visuais dos planetas devem-se às diferentes velocidades de translação em torno do Sol. Na realidade, é Marte que se desloca mais rapidamente do que Júpiter e Saturno, pois estes dois encontram-se muito mais longe do Sol e descrevem muito mais lentamente as suas órbitas. Enquanto o ano marciano tem 687 dias terrestres, os anos de Júpiter e de Saturno são 11,8 e 29,5 vezes, respectivamente, mais longos do que o da Terra. Assim, Marte quase que acompanha o nosso planeta enquanto este prossegue o seu movimento anual, pelo que demora mais tempo a aproximar-se visualmente do Sol. Em princípios de Maio, Júpiter e Saturno aparecerão ainda mais perto um do outro, mas nessa altura estarão tão perto do Sol que será impossível observá-los.

A dança dos planetas nos céus do crepúsculo constitui um espectáculo único e uma oportunidade para a identificação dos nossos companheiros do sistema solar. Se alguma vez perguntou como é que os babilónios e outros povos antigos distinguiram os planetas na miríade de pontos luminosos do firmamento, tem perante os seus olhos uma resposta evidente. No meio das estrelas que se deslocam em uníssono, aparecem alguns pontos de luz que viajam a ritmos desiguais e que trocam de posição à medida que as noites avançam. Esses vagabundos celestes são os planetas.

O céu deste mês oferece ainda a oportunidade para ver as constelações de Verão reaparecerem, pouco a pouco, nos céus de leste. Por volta da meia-noite, a ponta do célebre triângulo de Verão reaparece pela mão da estrela Vega, da constelação Lira. Pela uma da manhã, é a vez de Deneb, na cauda de Cisne, e, uma hora mais tarde, da estrela Altair, na cabeça da constelação Águia. Mais tarde, já cerca das quatro da madrugada, o triângulo desenhado por essas três estrelas brilhantes aparece nítido nos céus de leste. Com esse triângulo aparecem Escorpião, Sagitário e algumas das constelações típicas que nos irão acompanhar durante os próximos meses.

Há uma zona do céu em que as estrelas nunca mergulham no horizonte. É a zona norte, onde aparecem as estrelas circumpolares, isto é, aquelas que circundam o pólo e que são visíveis durante todas as noites do ano. A Ursa Menor, a Ursa Maior e a Cassiopeia são exemplos de agrupamentos circumpolares. Estas duas últimas constelações, contudo, roçam alternadamente o horizonte, pelo que há alturas em que a Cassiopeia aparece acima do pólo, enquanto a Ursa Maior rasteja junto ao horizonte, e há alturas em que é a grande ursa que se eleva no céu enquanto o «W» da Cassiopeia quase que se torna invisível. As noites de Abril oferecem uma boa oportunidade para observar a Ursa Maior. Ao princípio da noite, esta constelação eleva-se acima da polar, com a cauda da ursa a apontar para leste.

Pela meia-noite, as duas guardas da Ursa Maior, as estrelas que aparecem opostas à cauda e que apontam para a polar, aparecem mesmo por cima desta estrela, pelo que as guardas e a polar traçam uma linha vertical que aponta directamente para o horizonte norte.

1/4/2000, texto de Nuno Crato
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O mapa grande do céu está representado para as 7h40 da noite de hoje, meia hora depois do ocaso. Nos três mapas de pormenor, mostra-se a aproximação dos três planetas. A largura de cada janela equivale a 10 graus de distância angular
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